terça-feira, 3 de junho de 2008

O dia em que a Argentina calou a Bombonera

Em tempo de Libertadores, sempre o estádio do Boca Juniors aparece com a fama de ser quase inexpugnável. Raras equipes conseguiram sair com um triunfo de lá, ainda mais as estrangeiras. A conhecida frase “A Bombonera não treme, pulsa” é velha conhecida de todos nós.

No entanto, há pouco menos de quarenta anos, um time ousou desafiar a mística do estádio argentino e comemorou a classificação para a Copa do Mundo nesse campo. A seleção peruana, comandada pelo brasileiro Didi, empatou por 2 a 2 com o selecionado platino e assegurou pela primeira vez o direito de ir a uma Copa. Até hoje, o resultado é considerado como uma das maiores façanhas do futebol peruano em todos os tempos.

Os vídeos e o texto abaixo procuram mostrar ao leitor depoimentos dos jogadores peruanos e detalhes do jogo, do estádio e do clima daquele 31 de outubro de 1969.

Contexto histórico

O regime militar vigorava na Argentina desde 1966, sob o comando do general Juan Carlos Onganía. Desde o golpe que deu origem à ditadura, o governo interferiu diversas vezes sobre a AFA (Associação de Futebol Argentino) nomeando interventores para cuidar dos interesses da agremiação. Em 1969, quatro interventores passaram pela AFA. Um deles, Armando Ruiz convidou Humberto Maschio para treinar a Argentina visando a classificação para a Copa do Mundo de 1970. Maschio foi um dos maiores nomes do Racing e Ruiz era intimamente ligado ao time azul e branco de Avellaneda.

Para preparar-se melhor, a Argentina enfrentou o Paraguai e o Chile. Com 3 empates e uma vitória, Maschio sentiu-se pressionado e envergonhado e demitiu-se. Armando Ruiz, perdendo força na AFA, também renunciou. Para o seu lugar veio Aldo Porri, que indicou nada menos que Adolfo Pedernera, lendário jogador que formou com Di Stéfano, Labruna, Losteau e Moreno a fantástica linha de ataque do River Plate da década de 40.

No entanto, Pedernera começou mal as Eliminatórias: perdeu por 3 a 1 para a Bolívia, em La Paz. Uma semana depois, sofreu nova derrota diante do Peru por 1 a 0. No jogo da volta contra a Bolívia, a Argentina ganhou por 1 a 0, resultado muito contestado pelos bolivianos, já que o gol nasceu de um pênalti inexistente.

Assim, a Argentina tinha 2 pontos, contra 4 da Bolívia e do Peru. Para classificar-se à Copa, a Argentina teria de vencer o time peruano e provocar assim um triplo empate, onde a classificação seria disputada em campo neutro. Qualquer outro resultado colocava o time de Didi no México.

PARTE 1:



PARTE 2:



PARTE 3:




O jogo

Contando com “La Bombonera” completamente lotada, a Argentina pressionou o Peru desde o primeiro minuto. No entanto, parou nas mãos seguras do goleiro Rubiños, que depois foi apontado pelos companheiros como um dos melhores em campo. Pouco a pouco, os peruanos começaram a levar perigo, principalmente nos lançamentos buscando a rapidez de Oswaldo “Cachito” Ramírez. Mas o primeiro tempo terminou sem gols.

No segundo tempo, a Argentina viria ainda mais desesperada para conseguir um gol e abriu espaços para os ataques rápidos do Peru. De tanto pressionar, o Peru abriu o marcador com Ramírez, aos 8 minutos do segundo tempo. Jogada rápida, pela ponta esquerda, passando como um foguete pelo meio da zaga argentina.

O gol desesperou ainda mais os argentinos, que nervosos, não conseguiam trocar passes curtos e sofriam com a velocidade de Cubillas e Ramirez. Cejas, sempre atento, evitava o pior.

Aos 33 minutos, por meio de um pênalti extremamente duvidoso, a Argentina empata e faz a Bombonera acreditar que a vitória era possível. Mas, dois minutos depois, novamente Ramírez desempata o jogo, aproveitando uma intercepção de Cubillas no meio de campo. “Cachito” ganha na corrida de ninguém menos que Roberto Perfumo e chuta cruzado. Cejas ainda toca na bola, mas não consegue desviá-la: 2 a 1 Peru.

Aos 42 minutos, depois de bela jogada coletiva, Rendo empatou para a Argentina e correu com a bola para o centro do campo, num ato de pressa e desespero. No último minuto, Brindisi vira o jogo para a Argentina, mas o gol é corretamente anulado pela arbitragem, já que o meio-campista entrou com tudo em Rubiños derrubando-o com falta.

Logo após a cobrança da falta, o árbitro chileno Rafael Hormazábal encerrou o jogo. A festa peruana era incrível. O silêncio da torcida argentina e o choro dos jogadores também. Aquela derrota punha fim ao sonho de uma geração vencedora comparecer a uma Copa do Mundo. Cejas, Pachamé, Daniel Onega e Rendo nunca mais iriam a uma Copa.

Os times foram os seguintes:

Argentina: Cejas; Gallo, Perfumo, Albrecht, Marzolini; Rulli, Brindisi, Pachamé, Marcos; Yazalde e Tarabini.

Peru: Rubiños; Campos, De la Torre, Chumpitaz, Risco; Challe, Cruzado, Baylón, León; Cubillas e Ramírez.

Pós-Jogo

Após o jogo e a classificação, o Peru foi sorteado para o grupo 4 da Copa e ficou em segundo lugar num grupo que tinha a Alemanha Ocidental, o Marrocos e a Bulgária. Acabou em segundo lugar e enfrentou o Brasil nas quartas-de-final da Copa. Mas isso já é uma outra história...

Um comentário:

Lu Castro disse...

Carácole Aníbolez! Vc tá empenhadão no blog hein meu aigo?
=)
Parabéns pelas matérias!
Bjo da sua amiga Tranca Rua dos Infernos.