terça-feira, 17 de junho de 2008

A imigração japonesa no futebol brasileiro

Nessa semana, mais precisamente no dia 18, comemora-se de forma oficial o centenário da imigração japonesa no Brasil. Nem é preciso fazer muito esforço para sabermos disso, até porque por onde passamos existe uma obra de arte, uma revista ou algum tipo de exposição que nos faz lembrar essa importante data.

Os japoneses, sem dúvida alguma, contribuíram e muito para a formação da cultura brasileira no século 20. Para quem ainda duvida disso, basta lembrar da influência e da popularidade da culinária, das artes e da religião nipônicas no nosso país, sobretudo em São Paulo, região que concentra maior número de japoneses e seus descendentes.

Lendo sobre isso em alguns sites, faltava enumerar a presença dos japoneses também no nosso futebol. Apesar de não ser tão popular no Japão quanto no Brasil, o futebol jogado pelos japoneses e descendentes em terras tupiniquins não se resume somente a Kazu, bom atacante que se tornou famoso nos nossos gramados jogando em diversos clubes como Santos, Palmeiras e Coritiba.

Abaixo listamos alguns jogadores, do passado e do presente, japoneses ou descendentes deles, que fizeram das quatro linhas o seu local de trabalho. Famosos ou não, de certa forma também gravaram seu nome na história do nosso futebol.

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Sérgio Echigo

Nascido em 1945 em São Paulo, Echigo jogou no Corinthians nos anos de 1963 e 1964. Segundo o “Almanaque do Corinthians”, de Celso Unzelte, jogou 11 partidas pelo time do Parque São Jorge, com sete vitórias, quatro empates e nenhuma derrota.

Talvez o primeiro descendente de japoneses a jogar profissionalmente no Brasil, Echigo teve como companheiro no Corinthians ninguém menos que Roberto Rivellino. Mais: o famoso drible “elástico” que Rivellino popularizou pelo mundo afora foi uma invenção de Echigo, segundo o próprio “Reizinho”. Depois do Corinthians, Echigo teve uma passagem pelo Bragantino e foi para o Japão, onde jogou no Touwa Fudosan, que depois ganhou o nome de Shonan Bellmare. Nesse time jogam atualmente os ex-santistas Adiel e Jean.

Atualmente, Echigo é um comentarista de sucesso na televisão japonesa. Além disso, também é manager de uma equipe de hóquei no gelo. Abaixo, segue uma foto de um time de aspirantes do Corinthians onde ele aparece no mesmo time que o então menino Rivellino. Echigo é o primeiro agachado da esquerda para a direita.















Crédito da foto: Site Oficial Milton Neves (
www.miltonneves.com.br)

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Kazu

Nascido em Shizouka em 1967, Kazuyoshi Miura veio ao Brasil com 15 anos com um objetivo na cabeça: jogar futebol. Contrariando a família, que queria vê-lo formado numa faculdade e trabalhando num emprego convencional, Kazu começou sua carreira atuando como “Junior” no Juventus da Mooca em 1982. Três anos depois, foi o primeiro japonês a participar da Taça São Paulo de Futebol Junior (hoje Copa São Paulo de Futebol Junior). Vendo alguns jogos do time da capital, dirigentes do Santos resolveram contratá-lo para fazer parte do time que disputaria o Campeonato Paulista de 1986.

A partir disso, Kazu passou pelo Palmeiras, Matsubara, CRB, XV de Jaú (onde fez um gol histórico contra o Corinthians pelo Paulistão de 88), voltou ao Santos e no final de sua carreira no Brasil jogou no Coritiba. Em 1990, já com status de celebridade, voltou para o Japão, onde jogou no Verdy Kawasaki (atual Tokyo Verdy) por cinco anos. Nesse período, Kazu atingiu a plenitude de sua forma física e ajudou muito a Seleção Japonesa nas Eliminatórias para a Copa de 94, embora ela não tenha se classificado para a fase final do torneio. No seu país, era admirado pelos técnicos e idolatrado pelos torcedores. Na esteira do enorme sucesso, despertou o interesse do Genoa da Itália. Não tendo se adaptado ao futebol italiano, voltou ao Verdy por onde jogaria por mais três anos. Na última vez em que foi notícia por aqui, Kazu jogava pelo Sydney no Campeonato Mundial de Clubes de 2005, vencido pelo São Paulo.

Multi-premiado e consagrado no seu país, Kazu tem cadeira cativa na mídia local, onde atua como consultor e comentarista de televisão. A trajetória dele no Japão é vista como um grande alento para jovens jogadores que um dia sonham em brilhar nos gramados. Naturalmente, Kazu tem uma forte influência brasileira por conta do tempo que atuou por aqui. Fala normalmente o português, seu site oficial chama-se “Boa Sorte Kazu” e é detentor do título do “Cidadão Jauense”, além de ter doado cerca de US$ 100.000 para a reconstrução do estádio do XV de Jaú.







Crédito da foto: Site Oficial Kazu Miura (www.kazu-miura.com)

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Paulinho Kobayashi

Nascido em Osasco em 1970, Paulinho Kobayashi foi revelado pelo Palmeiras, mas começou sua carreira profissional no recém-inaugurado São Caetano do final da década de 80. Ali jogou ao lado de Serginho Chulapa, Luis Pereira e o goleiro Serginho. Por lá ficou até 1992, quando se transferiu para a Portuguesa. As boas atuações no time do Canindé lhe valeram uma proposta para atuar no Santos, onde é lembrado até hoje por alguns torcedores. Lá atravessou a melhor fase da carreira e se transferiu para o Atlético Paranaense.

Em Curitiba não repetiu as mesmas atuações que tivera pelo Santos. Desde então passou por Vitória, Caxias e América potiguar. Em 1999, se transferiu para a Grécia, onde permaneceu por cinco anos. No seu retorno, defendeu o Vila Nova de Goiás, União São João e novamente o América potiguar. Atuando pelo “Mecão”, foi um dos responsáveis que levaram o América de volta à elite do futebol brasileiro em 2006.

No ano passado, Paulinho Kobayashi atuou pelo Brasiliense na disputa da Série B. Mas no final do ano ele acertou seu desligamento do time de Luiz Estevão e aguarda uma nova oportunidade para atuar.









Crédito da foto: Site Gazeta Esportiva.Net (www.gazetaesportiva.net)

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Maezono e Sugawara

Em meados dos anos 90, algumas transações envolvendo jogadores de nacionalidades poucos comuns para o futebol brasileiro aconteceram com certa freqüência. Quem não se lembra dos sul-africanos Mark Fish e Williams jogando pelo Corinthians e Kennedy atuando pelo Santos? E do goleiro camaronês William Andem atuando pelo Bahia?

Apesar de Kazu ter feito relativo sucesso por aqui, não é todo o dia que vemos jogadores japoneses atuando no Brasil. E o Santos uma vez mais decidiu apostar nos nipônicos, trazendo o atacante Masakiyo Maezono e o volante Tomo Sugawara. Os dois jogadores foram sugeridos pelo então técnico do Peixe, Emerson Leão, que havia observado os dois jogadores enquanto trabalhou no Verdy Kawasaki de Tóquio.

Atualmente com 35 anos, Maezono fez parte da Seleção Japonesa que em 1996 derrotara o Brasil pelas Olimpíadas de Atlanta, no chamado “Milagre de Miami”. Essa vitória fez com que seu nome ficasse em evidência tanto no Japão quanto no mundo. Daí para a indicação de Leão foi apenas uma questão de tempo. E sua estréia no Santos não poderia ter sido melhor: um minuto após ter entrado em campo, fez o gol do time litorâneo no empate com a Portuguesa pelo Brasileirão de 1998.

Apesar do gol e da promessa de bom futebol, em 1999 Maezono vai para o Goiás e depois para o Bahia, sem o mesmo brilho do Verdy. No ano seguinte ele voltou ao Japão, onde encerraria sua carreira em 2005.

Sugawara veio para o Santos para jogar no meio-campo, mas teve poucas atuações, não agradou ao técnico Leão e voltou para o Japão, onde jogou por cinco anos no Vissel Kobe e atualmente defende o Tokyo Verdy, mesmo clube do ex-são-paulino Leandro. Talvez tenha saído do Brasil por não ter mais agüentado os inevitáveis trocadilhos feitos com o seu sobrenome.







Maezono atuando pelo Santos

Crédito da foto: Agência Estado

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Sandro Hiroshi

Formado no Tocantinópolis e revelado para o futebol atuando pelo Rio Branco de Americana, Sandro Hiroshi se transferiu ao São Paulo em 1999 para defender o time da capital no Campeonato Brasileiro daquele ano.

Acabou ficando mais conhecido pelo escândalo que envolveu a adulteração de sua idade do que propriamente pelo nível do seu futebol. O “Caso Sandro Hiroshi” envolveu perda de pontos de alguns times, bem como a salvação do rebaixamento de outros. Como conseqüência disso, a CBF solicitou ao Clube dos 13 que organizasse o Campeonato Brasileiro de 2000. A Copa João Havelange nasceu aí.

Depois de toda a confusão, Sandro Hiroshi continuou jogando no São Paulo até 2001, onde perdeu espaço para novos jogadores como Kaká, Julio Baptista e Fábio Simplício e foi cedido ao Flamengo. Depois se transferiu para o Figueirense, Al-Jazira, dos Emirados Árabes, Guarani, Daegu e Chunnam Dragons da Coréia, onde joga atualmente. Está com 28 anos.








Crédito da foto: JB online (www.jbonline.terra.com.br)

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Rodrigo Tabata

Nascido em Araçatuba em 1980, Tabata andou por muitos clubes até realmente despontar para o futebol em 2004 no Goiás, onde era considerado um bom armador de jogadas e eventualmente fazia gols. Foi um dos responsáveis pela excelente campanha do time do planalto central no Brasileirão de 2005, quando o Goiás terminou em terceiro lugar e se classificou para a Libertadores da América. Seu bom futebol rendeu uma transferência para o Santos, onde conquistou os títulos paulistas de 2006 e 2007.

Atualmente não vive um bom momento no Santos e pode ser negociado.







Crédito da foto: Globo Esporte.com (www.globoesporte.com)

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Pedro Ken

Meia-atacante habilidoso formado nas categorias de base do Coritiba, Pedro Ken foi um dos principais responsáveis pela volta do Coritiba à Série A nesse ano. É considerado uma das principais revelações do futebol paranaense dos últimos tempos e foi convocado no ano passado para a Seleção Brasileira Sub-20 para um amistoso realizado no final do ano contra os melhores do Brasileirão.

Apesar de ter treinado com o grupo para participar do Mundial Sub-20 do Canadá no ano passado, Ken, de 20 anos, não foi convocado. Nesse ano, sofreu uma grave contusão no joelho direito e não defenderá mais o Coritiba no Brasileirão.










Crédito da foto: Site oficial do Coritiba (www.coritiba.com.br)

Texto publicado no site do Jornalista Milton Neves

Um comentário:

Anônimo disse...

Belíssima reportagem.

E merecida homenagem a um dos povos que mais contribuiu para uma cultura tão diversificada quanto a brasileira.

Abraços!