quarta-feira, 25 de junho de 2008

Maldivas: Existe futebol no paraíso


Um dos poucos lugares do planeta que ainda conservam seu estado natural. Cerca de 1,2 mil ilhas com praias semidesertas e reluzentes, lagoas do mais limpo azul-turquesa, recifes de corais repletos de peixes e exuberantes palmeiras. Esse é o arquipélago de Maldivas, considerado por muitos como a própria filial do paraíso na Terra. Em uma de suas inúmeras viagens pela Ásia, Marco Pólo a nomeou “Flor das Índias”.

Do total de ilhas que fazem parte do país, 200 concentram a grande maioria da população local e cerca de 70 foram adaptadas exclusivamente para atender ao crescente número de turistas que visita a região para descanso. Para quem procura um lugar tranqüilo, caloroso e excelente para a prática de esportes náuticos, o país, localizado ao sul da Índia, é uma ótima recomendação.

Em dezembro de 2004, Maldivas tornou-se famosa por um fato terrível: as imagens que correram o mundo mostrando um terrível terremoto cujo epicentro ocorreu no Oceano Índico. Desse terremoto, surgiu uma série de ondas gigantes conhecidas como tsunamis. Apesar de o abalo ter ocorrido a milhares de quilômetros do arquipélago, os tsunamis chegaram a Maldivas e inundaram dois terços da capital do país, Malé.

Os tsunamis fizeram a população lembrar-se de um antigo presidente de Maldivas, que certa vez afirmou que vivia em uma nação em perigo, por conta das enchentes constantes. Em tempos de preocupações com o aquecimento global, qualquer alteração climática na região seria devastadora para a população local, já que a altitude de praticamente todas as ilhas do país não ultrapassa os dois metros.

Início difícil e progresso contínuo

Os registros históricos do país atestam que o futebol em Maldivas começou a ser praticado na década de 1940, quando o local ainda era um protetorado britânico. No entanto, o primeiro jogo oficial da seleção do país aconteceu somente em 1979, três anos antes da fundação da federação de futebol local. Na ocasião, as ilhas disputaram pela primeira vez o torneio de futebol dos Jogos das Ilhas do Oceano Índico. No primeiro jogo, contra Seychelles, sofreu uma fragorosa derrota por 9 a 0.

Apesar da estréia pouco animadora, o governo de Maldivas fundou uma federação de futebol, vislumbrando um potencial de crescimento do esporte para as gerações seguintes. Por influência dos turistas, o futebol, que já era muito praticado nas praias do país, se fortaleceu ainda mais e tornou-se o esporte mais popular do arquipélago.

Após 15 anos sem disputar torneios de grande expressão, Maldivas voltou a reunir sua seleção para disputar torneios oficiais em 1996. No ano seguinte, em jogos válidos pelas eliminatórias para a Copa do Mundo da França, Maldivas realizou uma das piores campanhas já registradas por um país na história: em seis jogos, a seleção levou 59 gols e não fez nenhum. Os resultados mais dilatados foram duas derrotas para a Síria por 12 a 0 e uma por 17 a 0 para o Irã (que mais tarde se classificaria para a Copa).

Mesmo assim, o governo continuou a incentivar o desenvolvimento do futebol na região, e a associação local firmou uma parceria com a Fifa. Com a verba destinada pelo máximo órgão do futebol mundial, a associação pôde investir em melhorias na infra-estrutura das instalações esportivas do país. Assim, os investimentos retornaram em forma de um melhor nível técnico: a seleção de Maldivas chegou à final do Campeonato de Futebol do Sudeste Asiático e atingiu um feito histórico: um empate sem gols com a Coréia do Sul, que havia recentemente sido quarta colocada da Copa de 2002.

Em 2008, a seleção maldívia entrou em campo para disputar a primeira rodada das eliminatórias da Copa de 2010 contra o Iêmen. E por pouco não fez história novamente: ganhou o jogo de volta por 2 a 0, após ter perdido por 3 a 0 o jogo de ida. Por apenas dois gols, o sonho de avançar nas eliminatórias foi adiado por mais quatro anos. Diante dos bons resultados à frente da seleção, o técnico eslovaco Joseph Jankech foi mantido no cargo.

Liga atrativa e domínio da capital

A Liga de Maldivas é organizada desde 1983 e tem um sistema interessante de disputa: na primeira fase, oito times se enfrentam em turno único. Desses oito, seis são da capital e os outros dois vêm das outras ilhas do país. Na segunda fase, seis times seguem na briga pelo título e jogam entre si em dois turnos. O time que somar maior número de pontos sagra-se campeão nacional e ganha o direito a disputar a AFC Cup – torneio criado pela Confederação Asiática de Futebol que envolve clubes dos países de ‘segundo escalão’ (com futebol ‘em desenvolvimento’, de acordo com a AFC).

Como Maldivas tem direito a duas vagas na AFC Cup, o outro representante é o campeão da FA Cup. Disputado no sistema de copa, esse torneio foi criado para possibilitar a participação de todos os clubes existentes no país, profissionais ou não, no cenário esportivo maldívio.

Apesar da participação dos clubes de todo o arquipélago, os maiores campeões maldívios estão localizados em Malé. Com 10 títulos nacionais, o recordista é o Victory, clube mais antigo do país, com maior número de torcedores e detentor de um slogan peculiar: “O nome diz tudo”. Com sete títulos, o New Radiant vem logo após o Victory tanto em títulos quanto em torcida. É a maior rivalidade do futebol maldívio e, não raro, o estádio nacional costuma lotar quando acontece um jogo entre os dois times.

No entanto, o clube em que os principais craques maldívios jogam é o VB Sports. Em 2007, um grupo de empresários tomou a frente da administração do clube e promoveu uma série de contratações para reforçar o time. Titulares absolutos da seleção como Ali Umar, Ali Ashfaq e Mohamed Nizam negociaram sua ida para o VB e já ajudaram o time a conquistar o primeiro título: a FA Cup de 2008.

Pelo visto, Victory e New Radiant podem começar a se preocupar. Um novo clube pode realizar grandes clássicos com eles num futuro próximo.

*Texto de minha autoria publicado na coluna "Conheça a Seleção" do site Trivela

terça-feira, 17 de junho de 2008

A imigração japonesa no futebol brasileiro

Nessa semana, mais precisamente no dia 18, comemora-se de forma oficial o centenário da imigração japonesa no Brasil. Nem é preciso fazer muito esforço para sabermos disso, até porque por onde passamos existe uma obra de arte, uma revista ou algum tipo de exposição que nos faz lembrar essa importante data.

Os japoneses, sem dúvida alguma, contribuíram e muito para a formação da cultura brasileira no século 20. Para quem ainda duvida disso, basta lembrar da influência e da popularidade da culinária, das artes e da religião nipônicas no nosso país, sobretudo em São Paulo, região que concentra maior número de japoneses e seus descendentes.

Lendo sobre isso em alguns sites, faltava enumerar a presença dos japoneses também no nosso futebol. Apesar de não ser tão popular no Japão quanto no Brasil, o futebol jogado pelos japoneses e descendentes em terras tupiniquins não se resume somente a Kazu, bom atacante que se tornou famoso nos nossos gramados jogando em diversos clubes como Santos, Palmeiras e Coritiba.

Abaixo listamos alguns jogadores, do passado e do presente, japoneses ou descendentes deles, que fizeram das quatro linhas o seu local de trabalho. Famosos ou não, de certa forma também gravaram seu nome na história do nosso futebol.

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Sérgio Echigo

Nascido em 1945 em São Paulo, Echigo jogou no Corinthians nos anos de 1963 e 1964. Segundo o “Almanaque do Corinthians”, de Celso Unzelte, jogou 11 partidas pelo time do Parque São Jorge, com sete vitórias, quatro empates e nenhuma derrota.

Talvez o primeiro descendente de japoneses a jogar profissionalmente no Brasil, Echigo teve como companheiro no Corinthians ninguém menos que Roberto Rivellino. Mais: o famoso drible “elástico” que Rivellino popularizou pelo mundo afora foi uma invenção de Echigo, segundo o próprio “Reizinho”. Depois do Corinthians, Echigo teve uma passagem pelo Bragantino e foi para o Japão, onde jogou no Touwa Fudosan, que depois ganhou o nome de Shonan Bellmare. Nesse time jogam atualmente os ex-santistas Adiel e Jean.

Atualmente, Echigo é um comentarista de sucesso na televisão japonesa. Além disso, também é manager de uma equipe de hóquei no gelo. Abaixo, segue uma foto de um time de aspirantes do Corinthians onde ele aparece no mesmo time que o então menino Rivellino. Echigo é o primeiro agachado da esquerda para a direita.















Crédito da foto: Site Oficial Milton Neves (
www.miltonneves.com.br)

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Kazu

Nascido em Shizouka em 1967, Kazuyoshi Miura veio ao Brasil com 15 anos com um objetivo na cabeça: jogar futebol. Contrariando a família, que queria vê-lo formado numa faculdade e trabalhando num emprego convencional, Kazu começou sua carreira atuando como “Junior” no Juventus da Mooca em 1982. Três anos depois, foi o primeiro japonês a participar da Taça São Paulo de Futebol Junior (hoje Copa São Paulo de Futebol Junior). Vendo alguns jogos do time da capital, dirigentes do Santos resolveram contratá-lo para fazer parte do time que disputaria o Campeonato Paulista de 1986.

A partir disso, Kazu passou pelo Palmeiras, Matsubara, CRB, XV de Jaú (onde fez um gol histórico contra o Corinthians pelo Paulistão de 88), voltou ao Santos e no final de sua carreira no Brasil jogou no Coritiba. Em 1990, já com status de celebridade, voltou para o Japão, onde jogou no Verdy Kawasaki (atual Tokyo Verdy) por cinco anos. Nesse período, Kazu atingiu a plenitude de sua forma física e ajudou muito a Seleção Japonesa nas Eliminatórias para a Copa de 94, embora ela não tenha se classificado para a fase final do torneio. No seu país, era admirado pelos técnicos e idolatrado pelos torcedores. Na esteira do enorme sucesso, despertou o interesse do Genoa da Itália. Não tendo se adaptado ao futebol italiano, voltou ao Verdy por onde jogaria por mais três anos. Na última vez em que foi notícia por aqui, Kazu jogava pelo Sydney no Campeonato Mundial de Clubes de 2005, vencido pelo São Paulo.

Multi-premiado e consagrado no seu país, Kazu tem cadeira cativa na mídia local, onde atua como consultor e comentarista de televisão. A trajetória dele no Japão é vista como um grande alento para jovens jogadores que um dia sonham em brilhar nos gramados. Naturalmente, Kazu tem uma forte influência brasileira por conta do tempo que atuou por aqui. Fala normalmente o português, seu site oficial chama-se “Boa Sorte Kazu” e é detentor do título do “Cidadão Jauense”, além de ter doado cerca de US$ 100.000 para a reconstrução do estádio do XV de Jaú.







Crédito da foto: Site Oficial Kazu Miura (www.kazu-miura.com)

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Paulinho Kobayashi

Nascido em Osasco em 1970, Paulinho Kobayashi foi revelado pelo Palmeiras, mas começou sua carreira profissional no recém-inaugurado São Caetano do final da década de 80. Ali jogou ao lado de Serginho Chulapa, Luis Pereira e o goleiro Serginho. Por lá ficou até 1992, quando se transferiu para a Portuguesa. As boas atuações no time do Canindé lhe valeram uma proposta para atuar no Santos, onde é lembrado até hoje por alguns torcedores. Lá atravessou a melhor fase da carreira e se transferiu para o Atlético Paranaense.

Em Curitiba não repetiu as mesmas atuações que tivera pelo Santos. Desde então passou por Vitória, Caxias e América potiguar. Em 1999, se transferiu para a Grécia, onde permaneceu por cinco anos. No seu retorno, defendeu o Vila Nova de Goiás, União São João e novamente o América potiguar. Atuando pelo “Mecão”, foi um dos responsáveis que levaram o América de volta à elite do futebol brasileiro em 2006.

No ano passado, Paulinho Kobayashi atuou pelo Brasiliense na disputa da Série B. Mas no final do ano ele acertou seu desligamento do time de Luiz Estevão e aguarda uma nova oportunidade para atuar.









Crédito da foto: Site Gazeta Esportiva.Net (www.gazetaesportiva.net)

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Maezono e Sugawara

Em meados dos anos 90, algumas transações envolvendo jogadores de nacionalidades poucos comuns para o futebol brasileiro aconteceram com certa freqüência. Quem não se lembra dos sul-africanos Mark Fish e Williams jogando pelo Corinthians e Kennedy atuando pelo Santos? E do goleiro camaronês William Andem atuando pelo Bahia?

Apesar de Kazu ter feito relativo sucesso por aqui, não é todo o dia que vemos jogadores japoneses atuando no Brasil. E o Santos uma vez mais decidiu apostar nos nipônicos, trazendo o atacante Masakiyo Maezono e o volante Tomo Sugawara. Os dois jogadores foram sugeridos pelo então técnico do Peixe, Emerson Leão, que havia observado os dois jogadores enquanto trabalhou no Verdy Kawasaki de Tóquio.

Atualmente com 35 anos, Maezono fez parte da Seleção Japonesa que em 1996 derrotara o Brasil pelas Olimpíadas de Atlanta, no chamado “Milagre de Miami”. Essa vitória fez com que seu nome ficasse em evidência tanto no Japão quanto no mundo. Daí para a indicação de Leão foi apenas uma questão de tempo. E sua estréia no Santos não poderia ter sido melhor: um minuto após ter entrado em campo, fez o gol do time litorâneo no empate com a Portuguesa pelo Brasileirão de 1998.

Apesar do gol e da promessa de bom futebol, em 1999 Maezono vai para o Goiás e depois para o Bahia, sem o mesmo brilho do Verdy. No ano seguinte ele voltou ao Japão, onde encerraria sua carreira em 2005.

Sugawara veio para o Santos para jogar no meio-campo, mas teve poucas atuações, não agradou ao técnico Leão e voltou para o Japão, onde jogou por cinco anos no Vissel Kobe e atualmente defende o Tokyo Verdy, mesmo clube do ex-são-paulino Leandro. Talvez tenha saído do Brasil por não ter mais agüentado os inevitáveis trocadilhos feitos com o seu sobrenome.







Maezono atuando pelo Santos

Crédito da foto: Agência Estado

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Sandro Hiroshi

Formado no Tocantinópolis e revelado para o futebol atuando pelo Rio Branco de Americana, Sandro Hiroshi se transferiu ao São Paulo em 1999 para defender o time da capital no Campeonato Brasileiro daquele ano.

Acabou ficando mais conhecido pelo escândalo que envolveu a adulteração de sua idade do que propriamente pelo nível do seu futebol. O “Caso Sandro Hiroshi” envolveu perda de pontos de alguns times, bem como a salvação do rebaixamento de outros. Como conseqüência disso, a CBF solicitou ao Clube dos 13 que organizasse o Campeonato Brasileiro de 2000. A Copa João Havelange nasceu aí.

Depois de toda a confusão, Sandro Hiroshi continuou jogando no São Paulo até 2001, onde perdeu espaço para novos jogadores como Kaká, Julio Baptista e Fábio Simplício e foi cedido ao Flamengo. Depois se transferiu para o Figueirense, Al-Jazira, dos Emirados Árabes, Guarani, Daegu e Chunnam Dragons da Coréia, onde joga atualmente. Está com 28 anos.








Crédito da foto: JB online (www.jbonline.terra.com.br)

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Rodrigo Tabata

Nascido em Araçatuba em 1980, Tabata andou por muitos clubes até realmente despontar para o futebol em 2004 no Goiás, onde era considerado um bom armador de jogadas e eventualmente fazia gols. Foi um dos responsáveis pela excelente campanha do time do planalto central no Brasileirão de 2005, quando o Goiás terminou em terceiro lugar e se classificou para a Libertadores da América. Seu bom futebol rendeu uma transferência para o Santos, onde conquistou os títulos paulistas de 2006 e 2007.

Atualmente não vive um bom momento no Santos e pode ser negociado.







Crédito da foto: Globo Esporte.com (www.globoesporte.com)

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Pedro Ken

Meia-atacante habilidoso formado nas categorias de base do Coritiba, Pedro Ken foi um dos principais responsáveis pela volta do Coritiba à Série A nesse ano. É considerado uma das principais revelações do futebol paranaense dos últimos tempos e foi convocado no ano passado para a Seleção Brasileira Sub-20 para um amistoso realizado no final do ano contra os melhores do Brasileirão.

Apesar de ter treinado com o grupo para participar do Mundial Sub-20 do Canadá no ano passado, Ken, de 20 anos, não foi convocado. Nesse ano, sofreu uma grave contusão no joelho direito e não defenderá mais o Coritiba no Brasileirão.










Crédito da foto: Site oficial do Coritiba (www.coritiba.com.br)

Texto publicado no site do Jornalista Milton Neves

terça-feira, 3 de junho de 2008

O dia em que a Argentina calou a Bombonera

Em tempo de Libertadores, sempre o estádio do Boca Juniors aparece com a fama de ser quase inexpugnável. Raras equipes conseguiram sair com um triunfo de lá, ainda mais as estrangeiras. A conhecida frase “A Bombonera não treme, pulsa” é velha conhecida de todos nós.

No entanto, há pouco menos de quarenta anos, um time ousou desafiar a mística do estádio argentino e comemorou a classificação para a Copa do Mundo nesse campo. A seleção peruana, comandada pelo brasileiro Didi, empatou por 2 a 2 com o selecionado platino e assegurou pela primeira vez o direito de ir a uma Copa. Até hoje, o resultado é considerado como uma das maiores façanhas do futebol peruano em todos os tempos.

Os vídeos e o texto abaixo procuram mostrar ao leitor depoimentos dos jogadores peruanos e detalhes do jogo, do estádio e do clima daquele 31 de outubro de 1969.

Contexto histórico

O regime militar vigorava na Argentina desde 1966, sob o comando do general Juan Carlos Onganía. Desde o golpe que deu origem à ditadura, o governo interferiu diversas vezes sobre a AFA (Associação de Futebol Argentino) nomeando interventores para cuidar dos interesses da agremiação. Em 1969, quatro interventores passaram pela AFA. Um deles, Armando Ruiz convidou Humberto Maschio para treinar a Argentina visando a classificação para a Copa do Mundo de 1970. Maschio foi um dos maiores nomes do Racing e Ruiz era intimamente ligado ao time azul e branco de Avellaneda.

Para preparar-se melhor, a Argentina enfrentou o Paraguai e o Chile. Com 3 empates e uma vitória, Maschio sentiu-se pressionado e envergonhado e demitiu-se. Armando Ruiz, perdendo força na AFA, também renunciou. Para o seu lugar veio Aldo Porri, que indicou nada menos que Adolfo Pedernera, lendário jogador que formou com Di Stéfano, Labruna, Losteau e Moreno a fantástica linha de ataque do River Plate da década de 40.

No entanto, Pedernera começou mal as Eliminatórias: perdeu por 3 a 1 para a Bolívia, em La Paz. Uma semana depois, sofreu nova derrota diante do Peru por 1 a 0. No jogo da volta contra a Bolívia, a Argentina ganhou por 1 a 0, resultado muito contestado pelos bolivianos, já que o gol nasceu de um pênalti inexistente.

Assim, a Argentina tinha 2 pontos, contra 4 da Bolívia e do Peru. Para classificar-se à Copa, a Argentina teria de vencer o time peruano e provocar assim um triplo empate, onde a classificação seria disputada em campo neutro. Qualquer outro resultado colocava o time de Didi no México.

PARTE 1:



PARTE 2:



PARTE 3:




O jogo

Contando com “La Bombonera” completamente lotada, a Argentina pressionou o Peru desde o primeiro minuto. No entanto, parou nas mãos seguras do goleiro Rubiños, que depois foi apontado pelos companheiros como um dos melhores em campo. Pouco a pouco, os peruanos começaram a levar perigo, principalmente nos lançamentos buscando a rapidez de Oswaldo “Cachito” Ramírez. Mas o primeiro tempo terminou sem gols.

No segundo tempo, a Argentina viria ainda mais desesperada para conseguir um gol e abriu espaços para os ataques rápidos do Peru. De tanto pressionar, o Peru abriu o marcador com Ramírez, aos 8 minutos do segundo tempo. Jogada rápida, pela ponta esquerda, passando como um foguete pelo meio da zaga argentina.

O gol desesperou ainda mais os argentinos, que nervosos, não conseguiam trocar passes curtos e sofriam com a velocidade de Cubillas e Ramirez. Cejas, sempre atento, evitava o pior.

Aos 33 minutos, por meio de um pênalti extremamente duvidoso, a Argentina empata e faz a Bombonera acreditar que a vitória era possível. Mas, dois minutos depois, novamente Ramírez desempata o jogo, aproveitando uma intercepção de Cubillas no meio de campo. “Cachito” ganha na corrida de ninguém menos que Roberto Perfumo e chuta cruzado. Cejas ainda toca na bola, mas não consegue desviá-la: 2 a 1 Peru.

Aos 42 minutos, depois de bela jogada coletiva, Rendo empatou para a Argentina e correu com a bola para o centro do campo, num ato de pressa e desespero. No último minuto, Brindisi vira o jogo para a Argentina, mas o gol é corretamente anulado pela arbitragem, já que o meio-campista entrou com tudo em Rubiños derrubando-o com falta.

Logo após a cobrança da falta, o árbitro chileno Rafael Hormazábal encerrou o jogo. A festa peruana era incrível. O silêncio da torcida argentina e o choro dos jogadores também. Aquela derrota punha fim ao sonho de uma geração vencedora comparecer a uma Copa do Mundo. Cejas, Pachamé, Daniel Onega e Rendo nunca mais iriam a uma Copa.

Os times foram os seguintes:

Argentina: Cejas; Gallo, Perfumo, Albrecht, Marzolini; Rulli, Brindisi, Pachamé, Marcos; Yazalde e Tarabini.

Peru: Rubiños; Campos, De la Torre, Chumpitaz, Risco; Challe, Cruzado, Baylón, León; Cubillas e Ramírez.

Pós-Jogo

Após o jogo e a classificação, o Peru foi sorteado para o grupo 4 da Copa e ficou em segundo lugar num grupo que tinha a Alemanha Ocidental, o Marrocos e a Bulgária. Acabou em segundo lugar e enfrentou o Brasil nas quartas-de-final da Copa. Mas isso já é uma outra história...