segunda-feira, 26 de maio de 2008

Samoa: Atrás não só no fuso


Em toda festa de virada de ano, sempre existe um grupo de pessoas que quer ser o primeiro a celebrar o ano novo, fato que para muitos significa um período de renovação de objetivos e o início de uma nova fase de vida. Milhares de pessoas disputam viagens para destinos inusitados como Fiji ou o Kiribati. Embora esteja próximo a esses países, o arquipélago de Samoa é o último lugar a comemorar o ano novo, já que o país fica à beira da Linha Internacional de Data – linha imaginária na superfície terrestre que implica uma mudança de data obrigatória ao cruzá-la.

Assim, quando o viajante sai de países próximos, como Tonga ou Kiribati, com destino a Samoa, chega no dia anterior ao que partiu, gerando muitas confusões (um exemplo célebre está na trama do livro “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, de Julio Verne).

O povo de Samoa é conhecido como feliz e extremamente religioso. O catolicismo é a religião adotada pela grande maioria da população. Composto de dez ilhas, o arquipélago concentra sua população em duas dessas ilhas: Savai e Upolu, onde fica a capital, Apia.

Descoberto pelos holandeses, o conjunto das ilhas de Samoa (que compreendia também a atual Samoa Americana) foi dividido por meio de um tratado assinado entre alemães e norte-americanos, no qual a parte ocidental ficou com os germânicos e a parte oriental foi destinada aos americanos. Assim, Samoa ficou conhecida como ‘Samoa Ocidental’, nome que foi transformado no atual em 1997. Na Primeira Guerra Mundial, a Nova Zelândia invadiu Samoa e tornou-se responsável por ela até o ano de 1962, quando a independência foi declarada.

Goleadas e bons reforços

Fundada em 1969, a federação samoana organizou sua primeira seleção de futebol apenas 10 anos depois, disputando os Jogos do Pacífico Sul. Se no primeiro jogo disputado a derrota para Wallis e Futuna por 3 a 1 foi aceitável, a segunda partida foi um desastre: Samoa perdeu por 12 a 0 para as Ilhas Salomão.

Nos anos subseqüentes, ocorreram mais vexames, como um 13 a 1 para o Vanuatu, 13 a 0 para o Taiti, 12 a 0 para a Nova Zelândia e 11 a 0 para a Austrália, sendo este último jogo válido pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002. No entanto, por meio do programa ‘Goal’ promovido pela Fifa em 2002, o futebol samoano recebeu bons investimentos em infra-estrutura para a formação de jogadores e incentivo à prática do futebol feminino, além da verba para a construção de um estádio totalmente voltado para a prática do futebol, já que o local onde o futebol era praticado até então competia com o rúgbi e o críquete.

E os resultados dos investimentos logo apareceram: já a partir de 2002, Samoa venceu alguns jogos contra adversários de seu nível. Apesar de ainda perder de seleções mais fortes, os placares já não eram tão elásticos como em tempos passados. A partir de 2007, o futebol de Samoa recebeu mais um reforço: o jogador Chris Cahill, irmão do atacante australiano Tim Cahill. Embora nascido na Austrália e defendendo um clube australiano (St. George Saints), Chris passou a jogar pela seleção samoana, já que sua mãe é cidadã de Samoa. Além disso, o novo estádio ficou pronto em 2006 e, como prova de gratidão pelo investimento, foi batizado com o nome do presidente da Fifa, Joseph Blatter.

Já com o reforço de Chris Cahill, Samoa disputou os Jogos do Pacífico Sul, que também valeram pelas eliminatórias da Copa de 2010. E, comprovando seu crescimento, Samoa venceu dois jogos (contra Samoa Americana e Tonga) e perdeu os outros dois (contra Vanuatu e Ilhas Salomão). Apesar de não se classificar para a fase seguinte das eliminatórias, os dirigentes da federação samoana aprovaram o desempenho da seleção e mantiveram o técnico Falevi Umutaua, no comando do time desde 2005.

Luta por maior espaço

A liga samoana consiste de 10 times que jogam em sistema de turno único entre os meses de julho e setembro. O maior vencedor da liga é o Vaivase-tai, com seis conquistas. Logo depois vêm o Kiwi e o Strickland Brothers com três conquistas cada um. Seguindo a tradição local, que obedece rigidamente o princípio da religião católica de não trabalhar aos domingos, todos os jogos são realizados somente aos sábados, no Estádio Joseph Blatter. As partidas acontecem em seqüência: a primeira começa às 10 da manhã e a última tem início às 4 da tarde. Com isso, o habitante de Samoa tem a oportunidade de acompanhar futebol por um dia inteiro.

No entanto, o futebol em Samoa tem um grande concorrente: o rúgbi. Como o esporte de maior popularidade, o rúgbi atrai muito mais público que o futebol, tem patrocinadores mais fortes (para se ter uma idéia, a patrocinadora da seleção samoana de rúgbi é a Emirates), e a seleção do país é relativamente boa, já que constantemente participa de torneios internacionais importantes, como a Copa do Mundo de Rúgbi. Esses fatores impedem o crescimento da popularidade do futebol no arquipélago. Como conseqüência, as partidas não atraem bons públicos. Assim, independentemente dos investimentos da Fifa, é difícil imaginar grande evolução para o futebol do país.

Apesar disso, os Manumea (uma espécie de pombo que vive em Samoa), como é conhecida a seleção de futebol do país, lutam com dignidade para promover o futebol. E sabendo da luta árdua que têm pela frente, procuram jogar conforme o espírito do povo e das famílias samoanas: com muita união e alegria.

*Texto de minha autoria publicado na coluna "Conheça a Seleção" do site Trivela