domingo, 16 de novembro de 2008

Migração

Pessoal,

Migrei meu blog para o Ole Ole. Todos os post´s desse blog foram migrados.

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Valeu!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ilhas Virgens Americanas: futuro desanimador


No último mês de março, as Eliminatórias para a Copa de 2010 começaram na América Central. Em um dos confrontos, um placar chamou a atenção: a seleção da pequena ilha de Granada havia ganho por 10 a 0 da seleção de outro país insular: a das Ilhas Virgens Americanas.

À época, a seleção das Ilhas Virgens Americanas ocupava a 202ª posição do ranking da Fifa. Essa posição colocava o time na última colocação entre todas as nações que são afiliadas ao máximo organismo do futebol mundial. Portanto, o resultado elástico não chegou a ser exatamente uma surpresa.

Uma semana antes de ser impiedosamente goleada, a seleção das Ilhas Virgens Americanas fez dois amistosos com a seleção vizinha das Ilhas Virgens Britânicas. E nos dois jogos, ocorreram dois empates: 1 a 1 e 0 a 0. Esses resultados trouxeram um pouco mais de esperanças aos habitantes das ilhas, que poderiam sonhar em dar trabalho aos granadinos, tal qual seus vizinhos fizeram com a seleção das Bahamas, onde empataram os dois jogos e não se classificaram para a próxima fase da competição por apenas um gol.

No entanto, a derrota por 10 a 0 acabou por jogar uma “pá de cal” nas esperanças de progresso de seu selecionado, que assim deverá aguardar por mais longos quatro anos a chance de poder mostrar ao mundo uma evolução no futebol. E com um detalhe: todos os atletas das Ilhas Virgens Americanas são amadores.

Das disputas entre europeus à badalação do turismo

Descobertas em 1493 por Cristóvão Colombo, as Ilhas Virgens Americanas foram objeto de intensa disputa militar entre espanhóis, britânicos, holandeses, franceses e dinamarqueses devido à sua posição estratégica no Mar do Caribe. Depois de quase duzentos anos de disputas, os dinamarqueses saíram vitoriosos e colonizaram as ilhas principais do local, a ilha Saint Thomas, a ilha Saint John e a ilha Saint Croix. Com isso, fundaram as cidades que mais tarde se tornariam as principais do território: a capital Charlotte Amalie (em homenagem à Rainha da Dinamarca à época), Cruz Bay e Groveplace.

Dois séculos depois de ter assumido seu controle, a Dinamarca passou a enxergar as ilhas com outros olhos: elas eram economicamente inviáveis de sustentar e não podiam fornecer mais meios de riqueza. Com isso, a ilha passou a receber cada vez mais menos investimentos, sofrendo de um abandono lento e aparentemente irreversível.
Foi nesse contexto que os Estados Unidos surgiram com uma proposta de compra das ilhas: pagariam 25 milhões de dólares para a Dinamarca para assumir o total controle delas. A Dinamarca aceitou a oferta e com isso as Ilhas Virgens Americanas assumiram a sua atual denominação.

Sob o domínio americano tornaram-se um dos principais destinos de aposentados e trabalhadores em busca de sossego longe do continente. Conseqüentemente, os investimentos em infra-estrutura cresceram e atualmente o território recebe muitos turistas provenientes não só dos Estados Unidos, mas também dos milhares de cruzeiros que usam seus portos para reabastecimento e descanso. Para ser ter uma idéia da quantidade de turistas que por lá passaram, basta dizer que as Ilhas Virgens Americanas, que têm cerca de um terço do tamanho da cidade de São Paulo, receberam mais turistas que toda a cidade do Rio de Janeiro no ano.

Liga unificada e disputa por espaço

Fundada em 1989, a Federação de Futebol das Ilhas Virgens Americanas somente organizou sua seleção em 1998. A explicação para o início tardio foi a falta de campos de futebol que apresentassem uma mínima estrutura para a prática do esporte. Também pesou o fato de que, a exemplo do país que as controlam, o futebol não ser o esporte mais popular das ilhas, perdendo para o basquete e o beisebol e com isso não despertar nem a atenção do governo nem da população.

Para ratificar sua condição de uma das seleções mais fracas do mundo, as Ilhas Virgens Americanas realizaram 23 jogos e ganharam somente o primeiro, disputado contra suas vizinhas Ilhas Virgens Britânicas, por 1 a 0. Logo depois dessa vitória, as Ilhas Virgens Americanas passaram a conviver com placares adversos e elásticos: 12 a 1 e 11 a 0 contra o Haiti, 11 a 0 contra Guadalupe, 14 a 1 contra Santa Lúcia e 11 a 1 contra a Jamaica. Esses resultados contribuíram para que as Ilhas Virgens Americanas caíssem para a última posição do ranking da Fifa. Mas, mesmo com os resultados ruins, a seleção ficou com o incômodo posto somente por um mês.

Com a adaptação do Lionel Roberts Park para receber o futebol, a realização da Liga de Futebol das Ilhas Virgens Americanas foi viabilizada e passou a ser disputada em 1997, tendo como primeiro campeão o MI Roc Masters. De lá para cá, os maiores vencedores da Liga são os times do Positive Vibes, Upsetters e Waitikubuli United, com duas conquistas para cada um. A fórmula de disputa da Liga das Ilhas Virgens Americanas é interessante: existe uma liga para os times de futebol das ilhas de Saint Thomas e Saint John e outra liga para os times da ilha de Saint Croix. O campeão e o vice dessas duas ligas formam um torneio quadrangular final com turno e returno sagrando-se campeão o time que somar mais pontos.

Mesmo com o incentivo da Fifa na adaptação do estádio principal das Ilhas Virgens Americanas, o principal desafio da federação nacional é atrair mais adeptos para o esporte. O zagueiro Dwight Ferguson, em entrevista concedida logo após a goleada sofrida para Granada foi taxativo: “Vejo um futuro desanimador para nosso futebol”. Talvez com um pouco mais de incentivo da Fifa e dos órgãos educacionais do território, a seleção das Ilhas Virgens Americanas possa ser vista de fato como “águias elegantes”, tal qual seu apelido.


*Texto de minha autoria publicado na coluna "Conheça a Seleção" do site Trivela

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Rep. Centro-Africana: A pior do continente

No último mês de fevereiro, um fato envolvendo a ONG “Médicos sem Fronteiras” chamou a atenção no mundo inteiro: uma mulher de 36 anos, vítima de um atentado, faleceu abraçada ao filho recém-nascido. Atingida por tiros de fuzil, ela viajava numa ambulância mantida pela organização.

O incidente aconteceu na região norte da República Centro-Africana. Como o próprio nome diz, o país está localizado no centro da África e não tem saída para o mar, fato que agrava as atividades comerciais do país. Como quase todos os países do continente, a República Centro-Africana apresenta conflitos internos de milícias rebeldes contra o governo, altos níveis de mortalidade infantil, expectativa de vida cujo limite não ultrapassa os 45 anos e por muito tempo foi governada por ditadores.

Apesar de todos esses fatores negativos, a República Centro-Africana é cortada por vários rios navegáveis, o que faz com que as exportações de frutas, legumes e diamantes (embora grande parte desse último saia do país em forma de contrabando) gerem boas fontes de renda para o país.

De fornecedor de escravos a império e ditadura

Até meados do século 19, a região da República Centro-Africana era uma confluência harmoniosa de vários povos tribais africanos, sobretudo os bantos. A partir da metade desse século, no entanto, o contato com os povos muçulmanos do norte da África (sobretudo os egípcios e sudaneses) atraiu a cobiça de militares e traficantes de escravos, fazendo com que muitos bantos fossem escravizados e levados para diversos lugares, inclusive o Brasil.

Ao mesmo tempo, os franceses navegavam em expedições pelo rio Congo e colonizavam as terras que o margeavam. Um dos afluentes do rio Congo, o rio Ubangui permitiu aos franceses a penetração no território da República Centro-Africana e em 1889 a cidade de Bangui foi inaugurada. Mais tarde, ela se tornaria a capital da colônia que os franceses denominariam de “Ubangui-Shari”, que era a junção dos nomes dos rios mais importantes da região.

Em 1958, Ubangui-Shari tornou-se um território autônomo da França e dois anos depois se tornou independente do país europeu, mudando seu nome para República Centro-Africana. Desde então, sucessivos golpes de estado e confrontos internos ocorreram e a república até tornou-se império por dois anos. Logo após a restauração da república, mais regimes ditatoriais se sucederam e somente em 2005 um governo foi democraticamente eleito. Mesmo assim, o país continua enfrentando problemas internos e os conflitos com milícias rebeldes são constantes, desencorajando o turista a conhecer o norte e o nordeste do país, regiões controladas pelos rebeldes.

Início animador, muitas interrupções

Como na maioria das colônias africanas, o futebol chegou à República Centro-Africana pela influência dos franceses. No entanto, diferentemente de outras colônias que organizaram seus times ainda sem conquistar a independência, a República Centro-Africana colocou sua seleção em campo somente depois de ter conquistado sua libertação da França. Em 1960, foi convidada a participar de um torneio de colônias e territórios franceses sediado em Madagascar, enfrentando a seleção de Mali e perdendo por 4 a 3. Para um primeiro jogo de uma seleção nacional que nunca havia sido reunida antes, o resultado foi considerado muito bom.

Um ano depois, a federação local era oficialmente fundada e as filiações à Caf e à Fifa foram homologadas nos outros dois anos posteriores à fundação. No entanto, por motivo de conflitos internos recorrentes, somente em 1973 a seleção centro-africana voltou a se reunir, dessa vez para disputar as eliminatórias para a Copa da África de 1974. E na primeira partida contra a Costa do Marfim foi bem, ganhando por 4 a 2. Poderia até ter ido mais longe, pois perdeu somente por 2 a 1 no jogo de volta. Mas, por conta de problemas financeiros, a República Centro-Africana foi desclassificada das eliminatórias. Para a Copa do Mundo de 1974 e de 1982, a desistência de disputar as eliminatórias também ocorreu por falta de dinheiro.

Um pouco antes do fracasso das eliminatórias africanas, a Liga Centro-Africana de Clubes teve início em 1968 e teve como campeão o Cattin, clube que já não existe mais. Como reflexo dos conflitos armados internos, a Liga não foi disputada em 1969, 70 e 72. Durante a década de 70, a República Centro-Africana viu o domínio do Real Olympique Castel, que logo depois se tornaria o Olympic Real.

De 1976 a 1988, a seleção centro-africana ficou sem saber o que era ganhar. Nesse meio tempo, Camarões e Congo foram seus maiores algozes: perdeu por 7 a 1 dos “Leões Indomáveis” e por 5 a 1 dos congoleses. A vitória tão esperada aconteceu frente ao Chade: 2 a 1 pela Copa CEMAC, que reúne os países que fazem parte da Comunidade Econômica e Monetária da África Central. Aliás, a Copa CEMAC é a responsável pela maior conquista do futebol centro-africano até o momento: dois vice-campeonatos nos anos de 1989 e 2003. Nas duas ocasiões, o título ficou com Camarões.

Enquanto isso, os centro-africanos viam um clube seriamente disposto a acabar com a hegemonia do Real Olympique Castel dentro do país. O Tempête Mocaf entre 1984 e 1997 conquistou seis títulos nacionais e ultrapassou o rival em número de conquistas.

Enfim, a disputa pela Copa do Mundo

O dia 9 de abril de 2000 converteu-se em uma data histórica para a República Centro-Africana. Pela primeira vez, o selecionado nacional iria realizar uma partida válida pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002. Até um apelido foi criado para incentivar a seleção: “Veados do Baixo Ubangui”. O adversário era o Zimbábue, seleção com muito mais tradição no cenário africano e, portanto, muito difícil de ser batido. Os centro-africanos perderam os dois jogos, por 1 a 0 e 3 a 1. Mas em todos ficou o sentimento de que a República Centro-Africana podia sonhar com um futuro promissor para as próximas gerações.

Porém, a esperança no futuro veio abaixo com a falta de recursos da federação e novas revoltas internas causadas por rebeldes contrários ao governo vigente. Esses fatores causaram novamente a interrupção da Liga Centro-Africana em 2002 e sucessivas derrotas nas eliminatórias para a Copa da África. As dificuldades atingiram seu ápice em 2004, quando a federação centro-africana teve que desistir da disputa das eliminatórias para as Copas do Mundo de 2006 e 2010 e a Caf não permitiu a entrada dos clubes centro-africanos na Copa dos Campeões africanos por falta de pagamento à confederação. Com isso, a pontuação da República Centro-Africana no ranking da Fifa caiu vertiginosamente, fazendo com que o país ocupe atualmente a 198ª posição, o pior time africano.

Enquanto isso, os bons jogadores centro-africanos, sem espaço para mostrar seu futebol dentro e fora do país, migram para a Europa. Foi o caso dos atacantes Foxi Kethevoama e Marcelin Tamboulas e do meio-campo Boris Sandjo, artilheiro maior da República Centro-Africana, com 6 gols. Enquanto Foxi e Tamboulas tentam a sorte no Birkirkara de Malta, Sandjo joga no Ujpest, da Hungria.

Resta agora saber se daqui pra frente os centro-africanos conseguirão um pouco de paz e dinheiro para fazer aquilo que mais gostam: jogar futebol e dar um pouco de alegria a seu povo sofrido.

*Texto de minha autoria publicado na coluna "Conheça a Seleção" do site Trivela

sábado, 2 de agosto de 2008

O primeiro a gente nunca esquece

Domingo, 31 de julho de 1988.

Há 20 anos atrás, um menino vê seu time campeão pela primeira vez. Numa casa da Vila Ema, Zona Leste de São Paulo, o garoto de 7 anos estava brincando com seus primos na garagem, mas por dentro o menino não se cabia em tanta euforia. Não era aniversário dele e nem de nenhum de seus primos ou parentes. Toda a família dele se reunia para assistir o 2º jogo da decisão do Campeonato Paulista daquele ano entre o Corinthians e o Guarani. Até então, o menino e os seus primos nunca haviam visto o Corinthians ser campeão.

A tarefa não era fácil para os comandados de Jair Pereira. No 1º jogo disputado no Morumbi, empate de 1 a 1 com aquele golaço de bicicleta do Neto e ele gritando para um Morumbi calado: “Eu sou f...”. O Guarani tinha a vantagem do empate, por isso aparentava estar muito mais tranquilo que o alvinegro. Além disso, o Bugre tinha um time respeitável, com Neto e João Paulo. O Corinthians corria por fora, estava desacreditado e talentos despontavam, caso do goleiro Ronaldo e do jovem atacante Viola.

Para o jogo em Campinas, o Guarani tinha a vantagem de jogar pelo empate no tempo normal e na prorrogação. Quase 50.000 pessoas lotaram o Brinco de Ouro. E o jogo começa duro, pegado. Bola vai, bola vem, a cada chance perdida a Fiel lamentava a falta de Edmar, que estava com a Seleção Brasileira. O menino e os seus primos acompanham o silêncio de seus pais e tios, apreensivos com a pressão do Guarani. No intervalo, os meninos voltaram as suas brincadeiras e os tios para as suas cervejas e cigarros. Os 15 minutos pareciam uma eternidade para todos. Ninguém via a hora de chegar o 2º tempo e torcer muito para que o Corinthians melhorasse.

O que não aconteceu. A pressão bugrina perdurou, porém a brava defesa corinthiana soube neutralizar todos os ataques e o jogo acabou empatado. Um clima total de desolação tomou conta da garagem. Os tios comentavam: “Se em 90 minutos não fizeram nada, não será em 30 que farão, ainda mais mortos do jeito que devem estar”. As frases proferidas deixaram aquele menino ainda mais apreensivo do que estava. “Será que vai ser que nem no ano passado?”, pensava ele. Ninguém queria mais brincar. Todos os guris viam os pais apreensivos e sentiam isso, pois quando a gente é criança, imaginamos os pais como fortalezas inexpugnáveis, que nada sentem e nada temem.

Chega a prorrogação. Em determinado momento, um tio do menino levanta e dá um murro na mesa. Sai andando e vai fumar um outro cigarro na rua. Ninguém pisca o olho diante da televisão Sharp (aquela típica dos anos 80, com o gabinete de madeira e os canais com as luzinhas em vermelho dos canais, lembram?) e o 1º tempo da prorrogação termina.

Começou o 2º tempo da prorrogação e Wilson Mano arrisca uma descida ao ataque. Um fio de esperança cresce em todos. Ele arrisca de fora da área um chute feio e sem direção com o pé direito, porém o chute sai forte. Um garoto franzino surge de trás da zaga do Guarani sem ninguém saber, mete o pé na bola e mata o Sérgio Nery. A bola desviada vai entrando suavezinha, olhada pelo estupefacto goleiro do Guarani, que nada pôde fazer. A Fiel se ergue lentamente atrás do gol bugrino e grita o gol, o maldito gol que desafoga as tensões dos meninos e dos tios daquela garagem; lava a alma de todos os irmãos Fiéis no Brasil inteiro. Viola tinha 19 anos e marcava ali o gol que colocava o Corinhians na frente do placar e com a mão na taça. Nem deu tempo de o Guarani fazer alguma coisa, tal atordoado estava. Termina o jogo e o Corinthians, desacreditado que estava, levanta o título que não ganhava havia 5 anos.

Aquele menino de 7 anos que estava lá naquele dia e viu seu time ser campeão pela primeira vez comemorou como gente grande aquele título e voltava as aulas no dia seguinte rouco de tanto gritar. O menino que sentia orgulho de vestir a camisa corinthiana era esse humilde escrevente.

O GOLAÇO de Neto no 1
º jogo da Final:



Melhores momentos do
2º jogo da Final:




Ficha técnica

Guarani 0 X 1 Corinthians

Local: Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas-SP
Árbitro: Arnaldo César Coelho-SP
Público: 49.604 pagantes
Cartões vermelhos: Paulo Isidoro (Guarani) e Paulinho Carioca (Corinthians)
Gol: Viola, aos 5'/1T (Prorrogação)

GUARANI
Sérgio Néri; Marquinhos Capixaba, Ricardo Rocha, Vágner Bacharel e Albéris; Paulo Isidoro, Barbiéri (Mário), Marco Antônio Boiadeiro e Neto (Careca Bianchesi); Evair e João Paulo. Técnico: Carbone.

CORINTHIANS
Ronaldo; Édson Boaro, Marcelo, Denílson e Dida; Márcio (Paulinho Gaúcho), Biro-Biro, Éverton e João Paulo; Viola e Paulinho Carioca. Técnico: Jair Pereira.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Djibuti: Pobreza na economia e no futebol


Um pouco maior que o estado de Sergipe, Djibuti fica numa posição extremamente importante no leste da África. Está localizado no chamado “Chifre”, que é a região do continente onde o Mar Vermelho e o Oceano Índico se encontram. Essa estratégica posição rende bons dividendos ao país, pois o porto da capital, que também se chama Djibuti, é um importante entreposto comercial e serve de apoio para muitas embarcações provenientes da Ásia com destino ao Canal de Suez.

O país inteiro é muito quente e árido. Para se ter uma idéia, dos quase 23 mil quilômetros quadrados do país apenas 20 são compostos por rios ou lagos. Com tão pouca quantidade de água, fica fácil compreender o porquê de o país figurar como um dos mais pobres do mundo e sempre necessitar de ajuda humanitária por parte dos países mais desenvolvidos e da Organização das Nações Unidas.

Do pioneirismo islâmico às guerras civis

As origens de Djibuti datam do século X a.C. Os dois principais povos da região, os nômades afar e o somali, dividiam o comércio de peles e especiarias com os egípcios, persas e indianos. No século IX d.C, esses dois povos foram os primeiros africanos a conhecer e a se converter ao islamismo.

Depois de algum tempo em total isolamento, Djibuti foi descoberta pelos franceses, que foram os primeiros europeus a fazer contato com os povos da região. À época, a construção do Canal de Suez estava no final e a França estabeleceu um tratado de paz com os afar e os somalis, constituindo assim o protetorado da Somália Francesa. Em torno do porto construído pelos franceses na costa oeste, a cidade de Djibuti foi inaugurada e converteu-se na principal cidade do protetorado. Não à toa, a seleção de futebol de Djibuti é conhecida como “Os ribeirinhos do Mar Vermelho”.

No decorrer do século 20, um grupo étnico chamado issa, do ramo dos somalis, passou a se rebelar contra os franceses. Pregava a dominação total da região do “Chifre da África” pelos nativos e era totalmente contrário à presença européia na região. Por outro lado, os afar continuavam ao lado dos franceses. A inimizade entre esses dois povos cresceu e deu origem a violentos desentendimentos internos que foram resolvidos em parte quando Djibuti declarou a independência da França em 1977.

Mesmo após a declaração da independência, os dois povos continuaram com problemas entre si. Tudo por causa do presidente eleito, de etnia issa, que não agradou a maioria da população do país, que é afar. Desde 1988 Djibuti já enfrentou duas guerras civis, o que agravou ainda mais as condições de vida da população, gerando mais fome e pobreza. Em junho último ocorreu uma invasão não autorizada de soldados da Eritréia a uma parte do território de Djibuti, o que pode desencadear outra crise interna no país.

Longas interrupções e futebol abaixo da média

Devido à grande influência dos franceses e dos soldados da Legião Estrangeira, cuja sede africana fica em Djibuti, o futebol é o esporte mais popular da ilha. No entanto, assim como a situação econômica, o futebol no país também é pobre. São apenas oito clubes profissionais filiados à Federação, que disputam a Liga e a Copa de Djibuti. Não há rebaixamento e todos os jogos são disputados no “Stade du Ville”, reformado pela FIFA e que conta com grama artificial, devido à escassez de água para a manutenção da grama natural.

Apesar de ter declarado sua independência há apenas 31 anos, há registros que atestam que Djibuti teve uma seleção formada pela primeira vez em 1947, quando perdeu da Etiópia por 5 a 0. Fundada em 1979, a federação djibutiana de futebol somente organizou sua seleção cinco anos depois e tomou outra goleada da Etiópia: 8 a 1. E foi preciso mais cinco anos para que a primeira vitória de Djibuti viesse com um 4 a 1 num amistoso disputado contra a seleção do Iêmen.

Interessante notar que, um ano antes da primeira vitória do selecionado, o Campeonato Djibutiano havia sido iniciado de forma oficial. O sistema de disputa consistiu em turno e returno com quatro participantes. O primeiro vencedor foi o Etablissements Merill, de Djibuti.

Um ano depois, a guerra civil impediu que o campeonato prosseguisse e que a seleção entrasse em campo e participasse de qualquer manifestação futebolística. Durante cinco anos a seleção nacional não jogou e foi preciso esperar até o ano 2000 para que a população de Djibuti pudesse ver o jogo da seleção no país. Porém a espera valeu a pena: a seleção nacional entrava em campo contra a República Democrática do Congo, pelas Eliminatórias da Copa de 2002, as primeiras disputadas por Djibuti na história. E conseguiu um excelente resultado, empatando em 1 a 1. No jogo de volta porém Djibuti foi eliminada da disputa da vaga na Copa perdendo por humilhantes 9 a 1. Nos anos seguintes, sempre jogando fora do país devido aos conflitos internos, a seleção djibutiana sofreu mais goleadas: 7 a 0 e 10 a 1 para Uganda e 6 a 0 para a Etiópia.

Sete anos depois de jogar pela última vez no país, Djibuti obteve seu resultado mais expressivo no cenário internacional. Pela fase preliminar das Eliminatórias da Copa de 2010, Djibuti ganhou por 1 a 0 da Somália e passou para a próxima fase da competição. Esse resultado foi a primeira vitória em um jogo oficial na história do país, fato que converteu o atacante Yassin Hussein, do CDE (Compagnie Djibouti-Ethiopie), em herói nacional.

No âmbito doméstico, o campeonato djibutiano aumentou o número de clubes participantes de quatro para dez, sempre mantendo o mesmo sistema de disputa. O CDE, apesar de ser o clube mais popular por ter nascido dos trabalhadores da ferrovia que liga o Djibuti à Etiópia, perde em número de títulos para o Force Nationale de Police, que conta com a simpatia do governo do país.

O resultado positivo contra a Somália, no entanto, não contribuiu para afastar de Djibuti a fama de saco-de-pancadas: depois da vitória histórica, a seleção perdeu de Uganda por 7 a 0, de Ruanda por 9 a 0, do Malawi por 8 a 1 e da República Democrática do Congo por 6 a 0, sendo esses dois últimos confrontos válidos pelo grupo 12 das Eliminatórias Africanas. Em setembro próximo, Djibuti voltará a campo para jogar contra Malawi e encerra sua participação no torneio em outubro contra o Egito.

Resta saber se os “ribeirinhos” seguirão com a sina de derrotas largas ou se conseguirão ao menos um ponto na fase de grupos das Eliminatórias, permitindo que o povo sofrido tenha maiores esperanças no futuro.

*Texto de minha autoria publicado na coluna "Conheça a Seleção" do site Trivela

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Luto


Não há palavras para descrever a dor que sinto.

Bom marido, filho, companheiro de discussão, amigo.


O mundo fica mais pobre sem o Bindi.


Só fica meu agradecimento por tudo o que ele fez por mim e quanto ele me fez ver que falar de futebol é realmente muito bom.


Os textos de seleções apresentados nesse blog foram editados por ele para ir ao site Trivela.

Luiz Fernando Bindi, amigo, irmão. Fique em paz onde estiver.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

As camisas vermelhas do Uruguai

Nas oportunidades em que o Uruguai joga contra a Argentina em Buenos Aires ou quando enfrenta algum time que veste azul, a "Celeste" sempre aparece de uniforme vermelho. Esse uniforme, como todos sabem, nada tem a ver com as cores da bandeira uruguaia e não faz menção à bandeira de Artigas, libertador do país, que tem uma faixa transversal vermelha.

Para entendermos o porquê de o Uruguai utilizar a camisa vermelha, devemos voltar ao ano de 1932. Depois da Copa de 1930, as relações entre as duas federações estava muito estremecida por conta do clima de guerra preparado pelos uruguaios na Final, da "freguesia" da Argentina (perdeu além da Copa de 1930 a final olímpica de 1928) e até do uso da bola na final da Copa, já que os argentinos queriam jogar com a bola fabricada na Argentina e os uruguaios queriam jogar com a bola fabricada no Uruguai.

Dois anos depois da final da Copa, uruguaios e argentinos marcaram um par de amistosos beneficentes. Para esquecer todo o clima de inimizade, a Associação Uruguaia de Futebol resolveu mudar a cor da camisa para apagar todo o histórico de desentendimentos com os argentinos. A Associação de Futebol Argentino aceitou de bom grado a idéia e passou a usar uma camisa inteira branca, ao invés da tradicional azul e branca.

Adoção definitiva

Eis que chega o Campeonato Sul-Americano de 1935, a ser realizado no mês de janeiro no Peru. Depois de seis anos finalmente o campeonato pôde ser organizado, com quatro seleções participantes: Argentina, Chile, Peru e Uruguai. Esse campeonato ficou conhecido como "Sul-Americano de Santa Beatriz". Santa Beatriz era o nome do bairro onde ficava localizado o Estádio Nacional de Lima. Seria disputado num sistema de todos-contra-todos e ao final a seleção que somasse mais pontos seria a campeã.

Esse campeonato marcou a despedida da brilhante geração de jogadores que conquistou dois campeonatos sul-americanos (1924 e 1926), duas medalhas de ouro olímpicas (1924 e 1928) e um Campeonato Mundial de Futebol (1930), a "Geração Olímpica". Jogadores como o goleiro Enrique Ballestrero, o zagueiro "Capitão dos Capitães" José Nasazzi e o atacante Héctor "Manco" Castro dariam lugar a outros bons valores como Héctor Machiavello e Aníbal Ciocca, que mais tarde seria um dos maiores ídolos do Nacional. Assim como os amistosos disputados em 1932, o Uruguai jogaria as três partidas do torneio usando a camisa vermelha.

No primeiro jogo, disputado no dia 13, o Uruguai entrou em campo contra os donos da casa. Quase 30 mil peruanos foram ao estádio para ajudar a seleção local a tentar se vingar da derrota sofrida no Mundial (na ocasião, o Uruguai venceu por 1 a 0). Porém, a ajuda não valeu muita coisa: o Uruguai venceu novamente por 1 a 0, gol de "Manco" Castro, aos 35 minutos do segundo tempo. Uma semana antes, a Argentina, que lutava pelo tri-campeonato, goleou o Chile por 4 a 1.

No segundo jogo, disputado no dia 18, a "Celeste" entrou em campo contra o Chile, que veio precisando da vitória para não se despedir prematuramente do torneio. Quase 15 mil pessoas compareceram ao Estádio Nacional e viram o Uruguai sair na frente com um gol de Ciocca. Logo no início do segundo tempo os chilenos empataram. No entanto, um minuto depois Ciocca novamente marca e determina a vitória uruguaia.

Dois dias depois, a Argentina, frente a cerca de 21 mil pessoas, aplica outra goleada, dessa vez contra os donos da casa: 4 a 1. A Argentina, assim como o Uruguai, somava 4 pontos no torneio enquanto chilenos e peruanos ainda não haviam pontuado.

No dia 26, os eliminados Peru e Chile entraram em campo para decidir quem ficaria com o terceiro lugar do torneio. Frente a cerca de 12 mil pessoas, a seleção local venceu por 1 a 0, gol de Montellanos.

No dia seguinte, estava marcada a "Final" do torneio entre argentinos e uruguaios. Pelo futebol vistoso mostrado nos dois jogos, a Argentina era considerada franca favorita ao título, já que contava com jogadores completamente diferentes daqueles que disputaram a final da Copa de 1930. Além disso, era óbvio que os argentinos queriam devolver as derrotas sofridas nas Olimpíadas e no Mundial.

O jogo começou e 30 mil peruanos viram o Uruguai passear ainda no primeiro tempo: em pouco menos de vinte minutos, "Manco" Castro, Taboada e Ciocca fazem 3 a 0 para a "Celeste" e liquidam o jogo. Aos argentinos restou aprender um pouco com a classe de Nasazzi e Castro e aguardar pelo término da partida.

No dia seguinte, a imprensa uruguaia exaltou a técnica e a raça do time, cunhando um termo que até os dias de hoje é utilizado: "Garra Charrúa". Como forma de lembrar dos feitos daquela geração, no ano de 1991 a Associação Uruguaia de Futebol formalizou a adoção do segundo uniforme da seleção uruguaia com a camisa vermelha.

Foto do Uruguai Campeão Sul-Americano de 1935:







Crédito: La República (www.larepublica.com.uy)

Curiosidades:

- Os quatro times que fizeram parte do Sul-Americano de 1935 estiveram presentes na Copa de 1930. E além de Uruguai x Peru, Argentina x Chile reeditaram um confronto daquela Copa, jogo em que os argentinos venceram por 3 a 1;

- Alguns jogadores da Argentina que fizeram parte do time vice-campeão seriam reconhecidos como ídolos de diferentes clubes: Sastre fez história no Independiente e no São Paulo, Minella foi o técnico do River Plate nos tempos de "La Máquina" e Masantonio é até hoje o maior goleador da história do Huracán;

- Apesar de figurar nos registros históricos da Conmebol como Campeonato Sul-Americano, não houve entrega de troféu ao campeão;

- O campeão desse torneio se classificaria para disputar as Olimpíadas de 1936, em Berlim. No entanto, nem o Uruguai nem a Argentina compareceram, por questões financeiras. O Peru foi o representante do futebol sul-americano.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Maldivas: Existe futebol no paraíso


Um dos poucos lugares do planeta que ainda conservam seu estado natural. Cerca de 1,2 mil ilhas com praias semidesertas e reluzentes, lagoas do mais limpo azul-turquesa, recifes de corais repletos de peixes e exuberantes palmeiras. Esse é o arquipélago de Maldivas, considerado por muitos como a própria filial do paraíso na Terra. Em uma de suas inúmeras viagens pela Ásia, Marco Pólo a nomeou “Flor das Índias”.

Do total de ilhas que fazem parte do país, 200 concentram a grande maioria da população local e cerca de 70 foram adaptadas exclusivamente para atender ao crescente número de turistas que visita a região para descanso. Para quem procura um lugar tranqüilo, caloroso e excelente para a prática de esportes náuticos, o país, localizado ao sul da Índia, é uma ótima recomendação.

Em dezembro de 2004, Maldivas tornou-se famosa por um fato terrível: as imagens que correram o mundo mostrando um terrível terremoto cujo epicentro ocorreu no Oceano Índico. Desse terremoto, surgiu uma série de ondas gigantes conhecidas como tsunamis. Apesar de o abalo ter ocorrido a milhares de quilômetros do arquipélago, os tsunamis chegaram a Maldivas e inundaram dois terços da capital do país, Malé.

Os tsunamis fizeram a população lembrar-se de um antigo presidente de Maldivas, que certa vez afirmou que vivia em uma nação em perigo, por conta das enchentes constantes. Em tempos de preocupações com o aquecimento global, qualquer alteração climática na região seria devastadora para a população local, já que a altitude de praticamente todas as ilhas do país não ultrapassa os dois metros.

Início difícil e progresso contínuo

Os registros históricos do país atestam que o futebol em Maldivas começou a ser praticado na década de 1940, quando o local ainda era um protetorado britânico. No entanto, o primeiro jogo oficial da seleção do país aconteceu somente em 1979, três anos antes da fundação da federação de futebol local. Na ocasião, as ilhas disputaram pela primeira vez o torneio de futebol dos Jogos das Ilhas do Oceano Índico. No primeiro jogo, contra Seychelles, sofreu uma fragorosa derrota por 9 a 0.

Apesar da estréia pouco animadora, o governo de Maldivas fundou uma federação de futebol, vislumbrando um potencial de crescimento do esporte para as gerações seguintes. Por influência dos turistas, o futebol, que já era muito praticado nas praias do país, se fortaleceu ainda mais e tornou-se o esporte mais popular do arquipélago.

Após 15 anos sem disputar torneios de grande expressão, Maldivas voltou a reunir sua seleção para disputar torneios oficiais em 1996. No ano seguinte, em jogos válidos pelas eliminatórias para a Copa do Mundo da França, Maldivas realizou uma das piores campanhas já registradas por um país na história: em seis jogos, a seleção levou 59 gols e não fez nenhum. Os resultados mais dilatados foram duas derrotas para a Síria por 12 a 0 e uma por 17 a 0 para o Irã (que mais tarde se classificaria para a Copa).

Mesmo assim, o governo continuou a incentivar o desenvolvimento do futebol na região, e a associação local firmou uma parceria com a Fifa. Com a verba destinada pelo máximo órgão do futebol mundial, a associação pôde investir em melhorias na infra-estrutura das instalações esportivas do país. Assim, os investimentos retornaram em forma de um melhor nível técnico: a seleção de Maldivas chegou à final do Campeonato de Futebol do Sudeste Asiático e atingiu um feito histórico: um empate sem gols com a Coréia do Sul, que havia recentemente sido quarta colocada da Copa de 2002.

Em 2008, a seleção maldívia entrou em campo para disputar a primeira rodada das eliminatórias da Copa de 2010 contra o Iêmen. E por pouco não fez história novamente: ganhou o jogo de volta por 2 a 0, após ter perdido por 3 a 0 o jogo de ida. Por apenas dois gols, o sonho de avançar nas eliminatórias foi adiado por mais quatro anos. Diante dos bons resultados à frente da seleção, o técnico eslovaco Joseph Jankech foi mantido no cargo.

Liga atrativa e domínio da capital

A Liga de Maldivas é organizada desde 1983 e tem um sistema interessante de disputa: na primeira fase, oito times se enfrentam em turno único. Desses oito, seis são da capital e os outros dois vêm das outras ilhas do país. Na segunda fase, seis times seguem na briga pelo título e jogam entre si em dois turnos. O time que somar maior número de pontos sagra-se campeão nacional e ganha o direito a disputar a AFC Cup – torneio criado pela Confederação Asiática de Futebol que envolve clubes dos países de ‘segundo escalão’ (com futebol ‘em desenvolvimento’, de acordo com a AFC).

Como Maldivas tem direito a duas vagas na AFC Cup, o outro representante é o campeão da FA Cup. Disputado no sistema de copa, esse torneio foi criado para possibilitar a participação de todos os clubes existentes no país, profissionais ou não, no cenário esportivo maldívio.

Apesar da participação dos clubes de todo o arquipélago, os maiores campeões maldívios estão localizados em Malé. Com 10 títulos nacionais, o recordista é o Victory, clube mais antigo do país, com maior número de torcedores e detentor de um slogan peculiar: “O nome diz tudo”. Com sete títulos, o New Radiant vem logo após o Victory tanto em títulos quanto em torcida. É a maior rivalidade do futebol maldívio e, não raro, o estádio nacional costuma lotar quando acontece um jogo entre os dois times.

No entanto, o clube em que os principais craques maldívios jogam é o VB Sports. Em 2007, um grupo de empresários tomou a frente da administração do clube e promoveu uma série de contratações para reforçar o time. Titulares absolutos da seleção como Ali Umar, Ali Ashfaq e Mohamed Nizam negociaram sua ida para o VB e já ajudaram o time a conquistar o primeiro título: a FA Cup de 2008.

Pelo visto, Victory e New Radiant podem começar a se preocupar. Um novo clube pode realizar grandes clássicos com eles num futuro próximo.

*Texto de minha autoria publicado na coluna "Conheça a Seleção" do site Trivela

terça-feira, 17 de junho de 2008

A imigração japonesa no futebol brasileiro

Nessa semana, mais precisamente no dia 18, comemora-se de forma oficial o centenário da imigração japonesa no Brasil. Nem é preciso fazer muito esforço para sabermos disso, até porque por onde passamos existe uma obra de arte, uma revista ou algum tipo de exposição que nos faz lembrar essa importante data.

Os japoneses, sem dúvida alguma, contribuíram e muito para a formação da cultura brasileira no século 20. Para quem ainda duvida disso, basta lembrar da influência e da popularidade da culinária, das artes e da religião nipônicas no nosso país, sobretudo em São Paulo, região que concentra maior número de japoneses e seus descendentes.

Lendo sobre isso em alguns sites, faltava enumerar a presença dos japoneses também no nosso futebol. Apesar de não ser tão popular no Japão quanto no Brasil, o futebol jogado pelos japoneses e descendentes em terras tupiniquins não se resume somente a Kazu, bom atacante que se tornou famoso nos nossos gramados jogando em diversos clubes como Santos, Palmeiras e Coritiba.

Abaixo listamos alguns jogadores, do passado e do presente, japoneses ou descendentes deles, que fizeram das quatro linhas o seu local de trabalho. Famosos ou não, de certa forma também gravaram seu nome na história do nosso futebol.

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Sérgio Echigo

Nascido em 1945 em São Paulo, Echigo jogou no Corinthians nos anos de 1963 e 1964. Segundo o “Almanaque do Corinthians”, de Celso Unzelte, jogou 11 partidas pelo time do Parque São Jorge, com sete vitórias, quatro empates e nenhuma derrota.

Talvez o primeiro descendente de japoneses a jogar profissionalmente no Brasil, Echigo teve como companheiro no Corinthians ninguém menos que Roberto Rivellino. Mais: o famoso drible “elástico” que Rivellino popularizou pelo mundo afora foi uma invenção de Echigo, segundo o próprio “Reizinho”. Depois do Corinthians, Echigo teve uma passagem pelo Bragantino e foi para o Japão, onde jogou no Touwa Fudosan, que depois ganhou o nome de Shonan Bellmare. Nesse time jogam atualmente os ex-santistas Adiel e Jean.

Atualmente, Echigo é um comentarista de sucesso na televisão japonesa. Além disso, também é manager de uma equipe de hóquei no gelo. Abaixo, segue uma foto de um time de aspirantes do Corinthians onde ele aparece no mesmo time que o então menino Rivellino. Echigo é o primeiro agachado da esquerda para a direita.















Crédito da foto: Site Oficial Milton Neves (
www.miltonneves.com.br)

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Kazu

Nascido em Shizouka em 1967, Kazuyoshi Miura veio ao Brasil com 15 anos com um objetivo na cabeça: jogar futebol. Contrariando a família, que queria vê-lo formado numa faculdade e trabalhando num emprego convencional, Kazu começou sua carreira atuando como “Junior” no Juventus da Mooca em 1982. Três anos depois, foi o primeiro japonês a participar da Taça São Paulo de Futebol Junior (hoje Copa São Paulo de Futebol Junior). Vendo alguns jogos do time da capital, dirigentes do Santos resolveram contratá-lo para fazer parte do time que disputaria o Campeonato Paulista de 1986.

A partir disso, Kazu passou pelo Palmeiras, Matsubara, CRB, XV de Jaú (onde fez um gol histórico contra o Corinthians pelo Paulistão de 88), voltou ao Santos e no final de sua carreira no Brasil jogou no Coritiba. Em 1990, já com status de celebridade, voltou para o Japão, onde jogou no Verdy Kawasaki (atual Tokyo Verdy) por cinco anos. Nesse período, Kazu atingiu a plenitude de sua forma física e ajudou muito a Seleção Japonesa nas Eliminatórias para a Copa de 94, embora ela não tenha se classificado para a fase final do torneio. No seu país, era admirado pelos técnicos e idolatrado pelos torcedores. Na esteira do enorme sucesso, despertou o interesse do Genoa da Itália. Não tendo se adaptado ao futebol italiano, voltou ao Verdy por onde jogaria por mais três anos. Na última vez em que foi notícia por aqui, Kazu jogava pelo Sydney no Campeonato Mundial de Clubes de 2005, vencido pelo São Paulo.

Multi-premiado e consagrado no seu país, Kazu tem cadeira cativa na mídia local, onde atua como consultor e comentarista de televisão. A trajetória dele no Japão é vista como um grande alento para jovens jogadores que um dia sonham em brilhar nos gramados. Naturalmente, Kazu tem uma forte influência brasileira por conta do tempo que atuou por aqui. Fala normalmente o português, seu site oficial chama-se “Boa Sorte Kazu” e é detentor do título do “Cidadão Jauense”, além de ter doado cerca de US$ 100.000 para a reconstrução do estádio do XV de Jaú.







Crédito da foto: Site Oficial Kazu Miura (www.kazu-miura.com)

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Paulinho Kobayashi

Nascido em Osasco em 1970, Paulinho Kobayashi foi revelado pelo Palmeiras, mas começou sua carreira profissional no recém-inaugurado São Caetano do final da década de 80. Ali jogou ao lado de Serginho Chulapa, Luis Pereira e o goleiro Serginho. Por lá ficou até 1992, quando se transferiu para a Portuguesa. As boas atuações no time do Canindé lhe valeram uma proposta para atuar no Santos, onde é lembrado até hoje por alguns torcedores. Lá atravessou a melhor fase da carreira e se transferiu para o Atlético Paranaense.

Em Curitiba não repetiu as mesmas atuações que tivera pelo Santos. Desde então passou por Vitória, Caxias e América potiguar. Em 1999, se transferiu para a Grécia, onde permaneceu por cinco anos. No seu retorno, defendeu o Vila Nova de Goiás, União São João e novamente o América potiguar. Atuando pelo “Mecão”, foi um dos responsáveis que levaram o América de volta à elite do futebol brasileiro em 2006.

No ano passado, Paulinho Kobayashi atuou pelo Brasiliense na disputa da Série B. Mas no final do ano ele acertou seu desligamento do time de Luiz Estevão e aguarda uma nova oportunidade para atuar.









Crédito da foto: Site Gazeta Esportiva.Net (www.gazetaesportiva.net)

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Maezono e Sugawara

Em meados dos anos 90, algumas transações envolvendo jogadores de nacionalidades poucos comuns para o futebol brasileiro aconteceram com certa freqüência. Quem não se lembra dos sul-africanos Mark Fish e Williams jogando pelo Corinthians e Kennedy atuando pelo Santos? E do goleiro camaronês William Andem atuando pelo Bahia?

Apesar de Kazu ter feito relativo sucesso por aqui, não é todo o dia que vemos jogadores japoneses atuando no Brasil. E o Santos uma vez mais decidiu apostar nos nipônicos, trazendo o atacante Masakiyo Maezono e o volante Tomo Sugawara. Os dois jogadores foram sugeridos pelo então técnico do Peixe, Emerson Leão, que havia observado os dois jogadores enquanto trabalhou no Verdy Kawasaki de Tóquio.

Atualmente com 35 anos, Maezono fez parte da Seleção Japonesa que em 1996 derrotara o Brasil pelas Olimpíadas de Atlanta, no chamado “Milagre de Miami”. Essa vitória fez com que seu nome ficasse em evidência tanto no Japão quanto no mundo. Daí para a indicação de Leão foi apenas uma questão de tempo. E sua estréia no Santos não poderia ter sido melhor: um minuto após ter entrado em campo, fez o gol do time litorâneo no empate com a Portuguesa pelo Brasileirão de 1998.

Apesar do gol e da promessa de bom futebol, em 1999 Maezono vai para o Goiás e depois para o Bahia, sem o mesmo brilho do Verdy. No ano seguinte ele voltou ao Japão, onde encerraria sua carreira em 2005.

Sugawara veio para o Santos para jogar no meio-campo, mas teve poucas atuações, não agradou ao técnico Leão e voltou para o Japão, onde jogou por cinco anos no Vissel Kobe e atualmente defende o Tokyo Verdy, mesmo clube do ex-são-paulino Leandro. Talvez tenha saído do Brasil por não ter mais agüentado os inevitáveis trocadilhos feitos com o seu sobrenome.







Maezono atuando pelo Santos

Crédito da foto: Agência Estado

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Sandro Hiroshi

Formado no Tocantinópolis e revelado para o futebol atuando pelo Rio Branco de Americana, Sandro Hiroshi se transferiu ao São Paulo em 1999 para defender o time da capital no Campeonato Brasileiro daquele ano.

Acabou ficando mais conhecido pelo escândalo que envolveu a adulteração de sua idade do que propriamente pelo nível do seu futebol. O “Caso Sandro Hiroshi” envolveu perda de pontos de alguns times, bem como a salvação do rebaixamento de outros. Como conseqüência disso, a CBF solicitou ao Clube dos 13 que organizasse o Campeonato Brasileiro de 2000. A Copa João Havelange nasceu aí.

Depois de toda a confusão, Sandro Hiroshi continuou jogando no São Paulo até 2001, onde perdeu espaço para novos jogadores como Kaká, Julio Baptista e Fábio Simplício e foi cedido ao Flamengo. Depois se transferiu para o Figueirense, Al-Jazira, dos Emirados Árabes, Guarani, Daegu e Chunnam Dragons da Coréia, onde joga atualmente. Está com 28 anos.








Crédito da foto: JB online (www.jbonline.terra.com.br)

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Rodrigo Tabata

Nascido em Araçatuba em 1980, Tabata andou por muitos clubes até realmente despontar para o futebol em 2004 no Goiás, onde era considerado um bom armador de jogadas e eventualmente fazia gols. Foi um dos responsáveis pela excelente campanha do time do planalto central no Brasileirão de 2005, quando o Goiás terminou em terceiro lugar e se classificou para a Libertadores da América. Seu bom futebol rendeu uma transferência para o Santos, onde conquistou os títulos paulistas de 2006 e 2007.

Atualmente não vive um bom momento no Santos e pode ser negociado.







Crédito da foto: Globo Esporte.com (www.globoesporte.com)

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Pedro Ken

Meia-atacante habilidoso formado nas categorias de base do Coritiba, Pedro Ken foi um dos principais responsáveis pela volta do Coritiba à Série A nesse ano. É considerado uma das principais revelações do futebol paranaense dos últimos tempos e foi convocado no ano passado para a Seleção Brasileira Sub-20 para um amistoso realizado no final do ano contra os melhores do Brasileirão.

Apesar de ter treinado com o grupo para participar do Mundial Sub-20 do Canadá no ano passado, Ken, de 20 anos, não foi convocado. Nesse ano, sofreu uma grave contusão no joelho direito e não defenderá mais o Coritiba no Brasileirão.










Crédito da foto: Site oficial do Coritiba (www.coritiba.com.br)

Texto publicado no site do Jornalista Milton Neves

terça-feira, 3 de junho de 2008

O dia em que a Argentina calou a Bombonera

Em tempo de Libertadores, sempre o estádio do Boca Juniors aparece com a fama de ser quase inexpugnável. Raras equipes conseguiram sair com um triunfo de lá, ainda mais as estrangeiras. A conhecida frase “A Bombonera não treme, pulsa” é velha conhecida de todos nós.

No entanto, há pouco menos de quarenta anos, um time ousou desafiar a mística do estádio argentino e comemorou a classificação para a Copa do Mundo nesse campo. A seleção peruana, comandada pelo brasileiro Didi, empatou por 2 a 2 com o selecionado platino e assegurou pela primeira vez o direito de ir a uma Copa. Até hoje, o resultado é considerado como uma das maiores façanhas do futebol peruano em todos os tempos.

Os vídeos e o texto abaixo procuram mostrar ao leitor depoimentos dos jogadores peruanos e detalhes do jogo, do estádio e do clima daquele 31 de outubro de 1969.

Contexto histórico

O regime militar vigorava na Argentina desde 1966, sob o comando do general Juan Carlos Onganía. Desde o golpe que deu origem à ditadura, o governo interferiu diversas vezes sobre a AFA (Associação de Futebol Argentino) nomeando interventores para cuidar dos interesses da agremiação. Em 1969, quatro interventores passaram pela AFA. Um deles, Armando Ruiz convidou Humberto Maschio para treinar a Argentina visando a classificação para a Copa do Mundo de 1970. Maschio foi um dos maiores nomes do Racing e Ruiz era intimamente ligado ao time azul e branco de Avellaneda.

Para preparar-se melhor, a Argentina enfrentou o Paraguai e o Chile. Com 3 empates e uma vitória, Maschio sentiu-se pressionado e envergonhado e demitiu-se. Armando Ruiz, perdendo força na AFA, também renunciou. Para o seu lugar veio Aldo Porri, que indicou nada menos que Adolfo Pedernera, lendário jogador que formou com Di Stéfano, Labruna, Losteau e Moreno a fantástica linha de ataque do River Plate da década de 40.

No entanto, Pedernera começou mal as Eliminatórias: perdeu por 3 a 1 para a Bolívia, em La Paz. Uma semana depois, sofreu nova derrota diante do Peru por 1 a 0. No jogo da volta contra a Bolívia, a Argentina ganhou por 1 a 0, resultado muito contestado pelos bolivianos, já que o gol nasceu de um pênalti inexistente.

Assim, a Argentina tinha 2 pontos, contra 4 da Bolívia e do Peru. Para classificar-se à Copa, a Argentina teria de vencer o time peruano e provocar assim um triplo empate, onde a classificação seria disputada em campo neutro. Qualquer outro resultado colocava o time de Didi no México.

PARTE 1:



PARTE 2:



PARTE 3:




O jogo

Contando com “La Bombonera” completamente lotada, a Argentina pressionou o Peru desde o primeiro minuto. No entanto, parou nas mãos seguras do goleiro Rubiños, que depois foi apontado pelos companheiros como um dos melhores em campo. Pouco a pouco, os peruanos começaram a levar perigo, principalmente nos lançamentos buscando a rapidez de Oswaldo “Cachito” Ramírez. Mas o primeiro tempo terminou sem gols.

No segundo tempo, a Argentina viria ainda mais desesperada para conseguir um gol e abriu espaços para os ataques rápidos do Peru. De tanto pressionar, o Peru abriu o marcador com Ramírez, aos 8 minutos do segundo tempo. Jogada rápida, pela ponta esquerda, passando como um foguete pelo meio da zaga argentina.

O gol desesperou ainda mais os argentinos, que nervosos, não conseguiam trocar passes curtos e sofriam com a velocidade de Cubillas e Ramirez. Cejas, sempre atento, evitava o pior.

Aos 33 minutos, por meio de um pênalti extremamente duvidoso, a Argentina empata e faz a Bombonera acreditar que a vitória era possível. Mas, dois minutos depois, novamente Ramírez desempata o jogo, aproveitando uma intercepção de Cubillas no meio de campo. “Cachito” ganha na corrida de ninguém menos que Roberto Perfumo e chuta cruzado. Cejas ainda toca na bola, mas não consegue desviá-la: 2 a 1 Peru.

Aos 42 minutos, depois de bela jogada coletiva, Rendo empatou para a Argentina e correu com a bola para o centro do campo, num ato de pressa e desespero. No último minuto, Brindisi vira o jogo para a Argentina, mas o gol é corretamente anulado pela arbitragem, já que o meio-campista entrou com tudo em Rubiños derrubando-o com falta.

Logo após a cobrança da falta, o árbitro chileno Rafael Hormazábal encerrou o jogo. A festa peruana era incrível. O silêncio da torcida argentina e o choro dos jogadores também. Aquela derrota punha fim ao sonho de uma geração vencedora comparecer a uma Copa do Mundo. Cejas, Pachamé, Daniel Onega e Rendo nunca mais iriam a uma Copa.

Os times foram os seguintes:

Argentina: Cejas; Gallo, Perfumo, Albrecht, Marzolini; Rulli, Brindisi, Pachamé, Marcos; Yazalde e Tarabini.

Peru: Rubiños; Campos, De la Torre, Chumpitaz, Risco; Challe, Cruzado, Baylón, León; Cubillas e Ramírez.

Pós-Jogo

Após o jogo e a classificação, o Peru foi sorteado para o grupo 4 da Copa e ficou em segundo lugar num grupo que tinha a Alemanha Ocidental, o Marrocos e a Bulgária. Acabou em segundo lugar e enfrentou o Brasil nas quartas-de-final da Copa. Mas isso já é uma outra história...