quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ilhas Virgens Americanas: futuro desanimador


No último mês de março, as Eliminatórias para a Copa de 2010 começaram na América Central. Em um dos confrontos, um placar chamou a atenção: a seleção da pequena ilha de Granada havia ganho por 10 a 0 da seleção de outro país insular: a das Ilhas Virgens Americanas.

À época, a seleção das Ilhas Virgens Americanas ocupava a 202ª posição do ranking da Fifa. Essa posição colocava o time na última colocação entre todas as nações que são afiliadas ao máximo organismo do futebol mundial. Portanto, o resultado elástico não chegou a ser exatamente uma surpresa.

Uma semana antes de ser impiedosamente goleada, a seleção das Ilhas Virgens Americanas fez dois amistosos com a seleção vizinha das Ilhas Virgens Britânicas. E nos dois jogos, ocorreram dois empates: 1 a 1 e 0 a 0. Esses resultados trouxeram um pouco mais de esperanças aos habitantes das ilhas, que poderiam sonhar em dar trabalho aos granadinos, tal qual seus vizinhos fizeram com a seleção das Bahamas, onde empataram os dois jogos e não se classificaram para a próxima fase da competição por apenas um gol.

No entanto, a derrota por 10 a 0 acabou por jogar uma “pá de cal” nas esperanças de progresso de seu selecionado, que assim deverá aguardar por mais longos quatro anos a chance de poder mostrar ao mundo uma evolução no futebol. E com um detalhe: todos os atletas das Ilhas Virgens Americanas são amadores.

Das disputas entre europeus à badalação do turismo

Descobertas em 1493 por Cristóvão Colombo, as Ilhas Virgens Americanas foram objeto de intensa disputa militar entre espanhóis, britânicos, holandeses, franceses e dinamarqueses devido à sua posição estratégica no Mar do Caribe. Depois de quase duzentos anos de disputas, os dinamarqueses saíram vitoriosos e colonizaram as ilhas principais do local, a ilha Saint Thomas, a ilha Saint John e a ilha Saint Croix. Com isso, fundaram as cidades que mais tarde se tornariam as principais do território: a capital Charlotte Amalie (em homenagem à Rainha da Dinamarca à época), Cruz Bay e Groveplace.

Dois séculos depois de ter assumido seu controle, a Dinamarca passou a enxergar as ilhas com outros olhos: elas eram economicamente inviáveis de sustentar e não podiam fornecer mais meios de riqueza. Com isso, a ilha passou a receber cada vez mais menos investimentos, sofrendo de um abandono lento e aparentemente irreversível.
Foi nesse contexto que os Estados Unidos surgiram com uma proposta de compra das ilhas: pagariam 25 milhões de dólares para a Dinamarca para assumir o total controle delas. A Dinamarca aceitou a oferta e com isso as Ilhas Virgens Americanas assumiram a sua atual denominação.

Sob o domínio americano tornaram-se um dos principais destinos de aposentados e trabalhadores em busca de sossego longe do continente. Conseqüentemente, os investimentos em infra-estrutura cresceram e atualmente o território recebe muitos turistas provenientes não só dos Estados Unidos, mas também dos milhares de cruzeiros que usam seus portos para reabastecimento e descanso. Para ser ter uma idéia da quantidade de turistas que por lá passaram, basta dizer que as Ilhas Virgens Americanas, que têm cerca de um terço do tamanho da cidade de São Paulo, receberam mais turistas que toda a cidade do Rio de Janeiro no ano.

Liga unificada e disputa por espaço

Fundada em 1989, a Federação de Futebol das Ilhas Virgens Americanas somente organizou sua seleção em 1998. A explicação para o início tardio foi a falta de campos de futebol que apresentassem uma mínima estrutura para a prática do esporte. Também pesou o fato de que, a exemplo do país que as controlam, o futebol não ser o esporte mais popular das ilhas, perdendo para o basquete e o beisebol e com isso não despertar nem a atenção do governo nem da população.

Para ratificar sua condição de uma das seleções mais fracas do mundo, as Ilhas Virgens Americanas realizaram 23 jogos e ganharam somente o primeiro, disputado contra suas vizinhas Ilhas Virgens Britânicas, por 1 a 0. Logo depois dessa vitória, as Ilhas Virgens Americanas passaram a conviver com placares adversos e elásticos: 12 a 1 e 11 a 0 contra o Haiti, 11 a 0 contra Guadalupe, 14 a 1 contra Santa Lúcia e 11 a 1 contra a Jamaica. Esses resultados contribuíram para que as Ilhas Virgens Americanas caíssem para a última posição do ranking da Fifa. Mas, mesmo com os resultados ruins, a seleção ficou com o incômodo posto somente por um mês.

Com a adaptação do Lionel Roberts Park para receber o futebol, a realização da Liga de Futebol das Ilhas Virgens Americanas foi viabilizada e passou a ser disputada em 1997, tendo como primeiro campeão o MI Roc Masters. De lá para cá, os maiores vencedores da Liga são os times do Positive Vibes, Upsetters e Waitikubuli United, com duas conquistas para cada um. A fórmula de disputa da Liga das Ilhas Virgens Americanas é interessante: existe uma liga para os times de futebol das ilhas de Saint Thomas e Saint John e outra liga para os times da ilha de Saint Croix. O campeão e o vice dessas duas ligas formam um torneio quadrangular final com turno e returno sagrando-se campeão o time que somar mais pontos.

Mesmo com o incentivo da Fifa na adaptação do estádio principal das Ilhas Virgens Americanas, o principal desafio da federação nacional é atrair mais adeptos para o esporte. O zagueiro Dwight Ferguson, em entrevista concedida logo após a goleada sofrida para Granada foi taxativo: “Vejo um futuro desanimador para nosso futebol”. Talvez com um pouco mais de incentivo da Fifa e dos órgãos educacionais do território, a seleção das Ilhas Virgens Americanas possa ser vista de fato como “águias elegantes”, tal qual seu apelido.


*Texto de minha autoria publicado na coluna "Conheça a Seleção" do site Trivela

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Alexandre!

Estou passando aqui para avisar-lhe que o meu blog mudou de endereço. Peço para que você o atualize em sua lista.

http://blogs.abril.com.br/filipelima

Abraços!