sábado, 2 de agosto de 2008

O primeiro a gente nunca esquece

Domingo, 31 de julho de 1988.

Há 20 anos atrás, um menino vê seu time campeão pela primeira vez. Numa casa da Vila Ema, Zona Leste de São Paulo, o garoto de 7 anos estava brincando com seus primos na garagem, mas por dentro o menino não se cabia em tanta euforia. Não era aniversário dele e nem de nenhum de seus primos ou parentes. Toda a família dele se reunia para assistir o 2º jogo da decisão do Campeonato Paulista daquele ano entre o Corinthians e o Guarani. Até então, o menino e os seus primos nunca haviam visto o Corinthians ser campeão.

A tarefa não era fácil para os comandados de Jair Pereira. No 1º jogo disputado no Morumbi, empate de 1 a 1 com aquele golaço de bicicleta do Neto e ele gritando para um Morumbi calado: “Eu sou f...”. O Guarani tinha a vantagem do empate, por isso aparentava estar muito mais tranquilo que o alvinegro. Além disso, o Bugre tinha um time respeitável, com Neto e João Paulo. O Corinthians corria por fora, estava desacreditado e talentos despontavam, caso do goleiro Ronaldo e do jovem atacante Viola.

Para o jogo em Campinas, o Guarani tinha a vantagem de jogar pelo empate no tempo normal e na prorrogação. Quase 50.000 pessoas lotaram o Brinco de Ouro. E o jogo começa duro, pegado. Bola vai, bola vem, a cada chance perdida a Fiel lamentava a falta de Edmar, que estava com a Seleção Brasileira. O menino e os seus primos acompanham o silêncio de seus pais e tios, apreensivos com a pressão do Guarani. No intervalo, os meninos voltaram as suas brincadeiras e os tios para as suas cervejas e cigarros. Os 15 minutos pareciam uma eternidade para todos. Ninguém via a hora de chegar o 2º tempo e torcer muito para que o Corinthians melhorasse.

O que não aconteceu. A pressão bugrina perdurou, porém a brava defesa corinthiana soube neutralizar todos os ataques e o jogo acabou empatado. Um clima total de desolação tomou conta da garagem. Os tios comentavam: “Se em 90 minutos não fizeram nada, não será em 30 que farão, ainda mais mortos do jeito que devem estar”. As frases proferidas deixaram aquele menino ainda mais apreensivo do que estava. “Será que vai ser que nem no ano passado?”, pensava ele. Ninguém queria mais brincar. Todos os guris viam os pais apreensivos e sentiam isso, pois quando a gente é criança, imaginamos os pais como fortalezas inexpugnáveis, que nada sentem e nada temem.

Chega a prorrogação. Em determinado momento, um tio do menino levanta e dá um murro na mesa. Sai andando e vai fumar um outro cigarro na rua. Ninguém pisca o olho diante da televisão Sharp (aquela típica dos anos 80, com o gabinete de madeira e os canais com as luzinhas em vermelho dos canais, lembram?) e o 1º tempo da prorrogação termina.

Começou o 2º tempo da prorrogação e Wilson Mano arrisca uma descida ao ataque. Um fio de esperança cresce em todos. Ele arrisca de fora da área um chute feio e sem direção com o pé direito, porém o chute sai forte. Um garoto franzino surge de trás da zaga do Guarani sem ninguém saber, mete o pé na bola e mata o Sérgio Nery. A bola desviada vai entrando suavezinha, olhada pelo estupefacto goleiro do Guarani, que nada pôde fazer. A Fiel se ergue lentamente atrás do gol bugrino e grita o gol, o maldito gol que desafoga as tensões dos meninos e dos tios daquela garagem; lava a alma de todos os irmãos Fiéis no Brasil inteiro. Viola tinha 19 anos e marcava ali o gol que colocava o Corinhians na frente do placar e com a mão na taça. Nem deu tempo de o Guarani fazer alguma coisa, tal atordoado estava. Termina o jogo e o Corinthians, desacreditado que estava, levanta o título que não ganhava havia 5 anos.

Aquele menino de 7 anos que estava lá naquele dia e viu seu time ser campeão pela primeira vez comemorou como gente grande aquele título e voltava as aulas no dia seguinte rouco de tanto gritar. O menino que sentia orgulho de vestir a camisa corinthiana era esse humilde escrevente.

O GOLAÇO de Neto no 1
º jogo da Final:



Melhores momentos do
2º jogo da Final:




Ficha técnica

Guarani 0 X 1 Corinthians

Local: Estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas-SP
Árbitro: Arnaldo César Coelho-SP
Público: 49.604 pagantes
Cartões vermelhos: Paulo Isidoro (Guarani) e Paulinho Carioca (Corinthians)
Gol: Viola, aos 5'/1T (Prorrogação)

GUARANI
Sérgio Néri; Marquinhos Capixaba, Ricardo Rocha, Vágner Bacharel e Albéris; Paulo Isidoro, Barbiéri (Mário), Marco Antônio Boiadeiro e Neto (Careca Bianchesi); Evair e João Paulo. Técnico: Carbone.

CORINTHIANS
Ronaldo; Édson Boaro, Marcelo, Denílson e Dida; Márcio (Paulinho Gaúcho), Biro-Biro, Éverton e João Paulo; Viola e Paulinho Carioca. Técnico: Jair Pereira.

2 comentários:

Regina Valente disse...

Que maravilha de blog, hein Anibal! Obrigada por compartilhar seu conhecimento com a gente :)
beijão.

Dassler Marques disse...

Amigão, que relato primoroso :)
Viola DEUS, surgia aí!

E sobre o Coxa, era pra ser no fds, mas tenho tentado guardar mais tempo longe do computador aos sábados e domingos.

Vou dar uma olhada nos melhores momentos contra o Sport e meter bronca nisso até terça!

abração, saudade